Livro: A América do Sul no Discurso Diplomático Brasileiro (2014)

livroVillafaneDisponível para download pelo site da FUNAG: http://www.funag.gov.br/loja/

Em A América do Sul no Discurso Diplomático Brasileiro o diplomata e historiador Luís Cláudio Villafañe G. Santos discute, com grande rigor analítico e solidez conceitual, a vertente sul-americana da identidade nacional do Brasil, um tema central da política externa brasileira do século XIX. A partir de uma densa discussão teórica, o autor resgata a história da ideia de América do Sul e discute sua ausência ou presença, e em que termos, no discurso diplomático brasileiro desde o século XIX. Uma ênfase especial fica por conta da apropriação desse conceito nos governos dos presidentes Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva.

Nas palavras do embaixador Gelson Fonseca Jr., “a conclusão inevitável é a de que, hoje, conhecer a obra de Luís Cláudio é fundamental para o estudioso da diplomacia brasileira”.

APRESENTAÇÃO – GELSON FONSECA JÚNIOR

Apesar de ter sido escrito em 2005 e com o objetivo específico de preencher um requisito para a promoção na carreira diplomática, o livro A América do Sul no Discurso Diplomático Brasileiro, ganhou interesse e atualidade. O passar do tempo mostrou o acerto de Luís Cláudio Villafañe Gomes Santos na escolha do tema que se tornou, como ele já vislumbrava, primeira prioridade na estratégia diplomática brasileira. O livro, ao mostrar as raízes de uma opção diplomática, permite compreendê-la melhor e ter instrumentos para avaliá-la. Os muitos méritos do livro e, portanto, as razões para lê-lo não surpreendem. Aliás, só confirmam, mais uma vez, o lugar de Luís Cláudio entre os mais rigorosos e criativos estudiosos da história da diplomacia brasileira.

Para quem examina a obra de Luís Cláudio Villafañe, um dos traços que primeiro chama atenção é sua inteligência na escolha de seus “objetos de pesquisa”. Devemos a ele, em um dos seus primeiros trabalhos, a tese de mestrado, publicada em 2002, O Império e as Repúblicas do Pacífico: as relações do Brasil com o Chile, Bolívia, Peru e Equador e Colômbia (1822-1889), uma renovação dos estudos sobre a diplomacia brasileira no século XIX, quando “redescobre” uma área esquecida. De fato, a tradição historiográfica se centrava, naturalmente, no Prata, mas, ao mostrar o outro lado da presença latino-americana do Brasil, Luís Cláudio trouxe uma contribuição única e inédita para a reflexão sobre o Brasil no continente. O estudo da diplomacia brasileira no século XIX se completa com outro texto notável, O Brasil entre a América e a Europa, que lida, entre outros, com o tema da rejeição brasileira às tentativas, promovidas pelos vizinhos, de reuniões multilaterais, no plano regional. Para entender a posterior aceitação brasileira do multilateralismo, já sob a égide do pan-americanismo, o texto de Luís Cláudio é indispensável. Esses livros e textos articulam as sólidas bases para a reflexão de Villafañe sobre a diplomacia brasileira nas Américas.

Em dois livros mais recentes, o mesmo sentido inovador se exprime com a madura reflexão que faz Luís Cláudio Villafañe para interpretar o papel da inserção internacional na configuração de uma identidade brasileira: O Dia em que adiaram o Carnaval: política externa e a construção do Brasil e O Evangelho do Barão. Não por acaso, Matias Spektor, sobre o último, disse, com razão, que o Evangelho “é um sopro de lucidez” e que corresponde, diante das biografias “tradicionais”, a um “corretivo necessário, põe em perspectiva o que houve de incoerente, inseguro e pretensioso na trajetória do Barão, sem reduzir a genialidade do homem e de seu projeto político”. Assim, ao lembrar esses textos, a conclusão inevitável é a de que, hoje, conhecer a obra de Luís Cláudio é fundamental para o estudioso da diplomacia brasileira.

Neste livro, que agora apresento, os estudiosos em relações internacionais e, além deles, os que se interessam sobre a construção da identidade brasileira, têm muito a ganhar. A escolha do tema amplia e renova as formas tradicionais de pensar o Brasil nas Américas. Luís Cláudio Villafañe mostra, com clareza e competência, como se constrói um espaço de atuação diplomática. A geografia é um dado, fixo; assim, a questão é narrativa que dela se extrai. Neste sentido, mostra, como passo preliminar do seu estudo, como se desenvolve, no plano conceitual, a começar ainda no século XIX; a criação de uma determinada ideia de América Latina e como o conceito ganha autonomia. É notável a precisão e a concisão com que revê as origens e a formação do conceito: lembra Torres Caicedo, Sarmiento, Marti, Rodó, sublinha as diferenças entre as perspectivas autonomistas, que buscavam um espaço próprio para as nações latino-americanas, e as ocidentalistas, que incluíam a América Latina no espaço americano, com o referencial necessário dos Estados Unidos, lembrando que “dentro do espaço criado por elas, ocorreram os grandes debates sobre a construção de uma identidade latino-americana a partir da própria América Latina” (p. 40). Mostra que só se pode falar na consolidação do conceito de América Latina após a Segunda Guerra Mundial, em especial com a fundação da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) e indica que a consolidação define a América Latina como um “contraconceito assimétrico à leitura que os Estados Unidos fazem de sua própria sociedade”. Chegando ao presente, e voltando-se para o quadro das relações internacionais, mostra que a incorporação da América do Sul como eixo do discurso (e ação) da diplomacia brasileira nasce em parte como contraponto às propostas americanas de uma área de livre-comércio para o continente, a Alca. Aliás, as reuniões pan-americanas foram paradoxalmente uma plataforma para que a América Latina identificasse interesses próprios, como a própria defesa da norma da não intervenção, que, ao longo de “nossa história diplomática, a referência à nossa condição de nação americana e suas variações (latino-americana, sul-americana) sempre foi um dos elementos centrais da identidade internacional” do país, são circunstâncias históricas que explicam o resgate do conceito e a busca de meios para operacionalizá-lo.

Como diz, em sua esclarecedora introdução teórica, “As identidades, em qualquer nível, são contingentes e históricas – produzidas por um sistema de relações sociais e não de condições naturais (biológicas, geográficas ou de qualquer outra natureza). As identidades (sejam elas pessoais, de grupos ou de nações) são construídas dentro desse espaço de relações e diferenças, sendo sua definição o resultado de um jogo entre as distintas identidades que configuram um determinado sistema social. Seus conteúdos e suas funções sociais têm um caráter essencialmente histórico, o que nos remete à tarefa de estudá-las desde uma perspectiva mais abrangente” (p. 48). Os fundamentos teóricos do trabalho de Luís Cláudio vão naturalmente além disto. Aliás, merecem uma leitura atenta as observações que faz sobre os modos de construção conceitual dos discriminados, dos que não têm poder, dos que estão, no caso da diplomacia, à margem das relações de poder. Na realidade, o livro é impecável metodologicamente. O objeto está bem delimitado, o discurso diplomático, as fontes, primárias e secundárias, são utilizadas com habilidade e sempre de forma a revelar e enriquecer o objeto.

Assim, a vizinhança sul-americana é a circunstância necessária da atuação do Brasil. Mas, é o interesse político que cria a “identidade sul-americana” e consequentemente define o espaço para a atuação diplomática “positiva”. A diferença de perspectivas entre a atitude do Império de distância dos vizinhos, marcada por contrapontos, e a da República é notável e movida, afinal, por fatores políticos, especialmente nos momentos iniciais da República, e, depois, paulatinamente, por objetivos mais complexos, especialmente de ordem econômica. Na primeira reunião de Presidentes sul-americanos, em 2000, convocada pelo Presidente Fernando Henrique Cardoso, a dimensão de integração física era nítida e ampliava o percurso iniciado com o Mercosul.

Vale notar, ainda, se viermos para os tempos recentes, a partir da aceitação da América do Sul como espaço privilegiado de atuação, as formas de atuar podem ser substancialmente diferentes, como Luís Cláudio Villafañe mostra quando compara a diplomacia dos Presidentes Fernando Henrique e Lula.

História conceitual corre ao lado da história diplomática, não a explica totalmente, mas é indispensável para entender as opções, alternativas e variantes dos atores, a começar pelos presidentes e chanceleres. Como o autor diz com razão, “A identidade internacional do Brasil, ainda que tenha fortes elementos de permanência, está continuamente sendo reconstruída e reinventada” (p. 179). Assim, ao leitor, se revela, com clareza, a maneira como surge, se desenvolve a ideia de América do Sul e as possibilidades de seu emprego político. Circunstâncias modelam a criação da ideia que, uma vez introduzida no discurso diplomático, passa a ser uma circunstância que passa a delimitar a própria atividade diplomática. Se somos sul-americanos, a que nos obriga essa condição? O que nos beneficia? Luís Cláudio Villafañe não responde a essas perguntas, que exigiriam ir além do que se propôs, mas, com a clara base em que formula a identidade sul-americana, as respostas ganham um apoio consistente.

O trabalho de Luís Cláudio Villafañe traz interpretação, sempre criativa e segura, das fontes, virtude essencial para a consistência do estudo historiográfico. Chama atenção a maneira como recupera e revê fontes conhecidas. Os relatórios anuais da Secretaria de Negócios Estrangeiros e, depois, do Ministério das Relações Exteriores, sempre constituíram uma base necessária para quem estuda a diplomacia brasileira. Mas, Luís Cláudio Villafañe retoma os relatórios do século XIX e, depois de uma leitura minuciosa, encontra formulações claras e reveladoras sobre a atitude distante em relação aos vizinhos, o que constituía uma barreira difícil de transpor para incorporar a América Latina ou a América no espaço de formulação diplomática brasileira. Na mesma linha, retoma os discursos do Brasil nas Nações Unidas, na importante coleção organizada e comentada por Luiz Felipe de Seixas Corrêa. As fontes são conhecidas, quase familiares, mas a forma como interpreta o seu alcance e, sobretudo, as relaciona, tornam em novidade o conhecido. São valiosas também as entrevistas que faz o autor com diplomatas, como o Embaixador Luiz Filipe de Macedo Soares e com o Embaixador Eduardo Santos.

Outra qualidade do livro é constituir-se em texto íntegro. As partes, da teoria à interpretação dos desdobramentos do conceito de América do Sul, encaixam-se com perfeita coerência interna. Cada capítulo enriquece o anterior. Ainda assim, creio que, em alguns momentos, a abordagem mostra-se especialmente útil e valiosa para interpretar momentos da história diplomática. Assim se revela a análise das posições brasileiras diante da revolução cubana. Como lidar com a atitude norte-americana, e de alguns outros vizinhos, que defendiam que a “identidade continental americana” teria, como pilar o anticomunismo? (p. 100). Se aceitamos que a opção marxista-comunista de Fidel era incompatível, nas palavras de San Tiago Dantas, então Chanceler, com os “princípios democráticos, em que se baseia o sistema interamericano” (p. 102), uma segunda dimensão da condição americana repudiava formas de intervenção e de sanção para corrigir a incompatibilidade e, por isto, votamos contra a suspensão do regime na Reunião de Consulta, convocada para Punta del Este em 1962. De uma certa forma, a atitude brasileira, proclamando o princípio da não intervenção ecoava a longa história de defesa daquele princípio no âmbito do sistema interamericano, só aceito pelos americanos em 1933, depois de várias tentativas que começam praticamente com a inauguração das reuniões dos Estados Americanos. Lembre-se que o Brasil que, a princípio esteve perto dos EUA, transforma depois a não intervenção em um dos pilares de sua atitude diplomática. Porém, como sabemos, com o movimento de 1964, a política externa reforça o eixo ocidentalista, de que o anticomunismo é peça fundamental, e as relações com Cuba são cortadas.

Há ainda dois aspectos do livro que chamam a atenção. O primeiro é a análise que faz do movimento que leva à adoção da América do Sul no repertório da diplomacia brasileira nos governos Fernando Henrique e Lula. Depois de lembrar a noção de Lafer de que a América do Sul corresponde a uma “força profunda de longa duração que vem norteando a ação diplomática brasileira” (p. 142), revê, com pertinência, o lançamento das reuniões de Presidentes sul-americanos, acompanha o seu desenvolvimento, e procura mostrar o reforço da ênfase sul-americana nos dois primeiros anos do mandato de Lula. O segundo aspecto que merece leitura cuidadosa são as conclusões. Luís Cláudio Villafañe não faz propostas de policies, mas, dentro do marco conceitual que discute, levanta questões absolutamente necessárias e que, ainda hoje, estão abertas. Uma das primeiras é mostrar que o conceito de América do Sul ainda está em construção e, pela abrangência do que propõe, enfrenta desafios maiores do que o de América Latina que tinha a vantagem de uma longa história e, a rigor, se fundar em “uma noção de similaridade antes de tudo cultural” (p. 189). Menciona a necessidade de superar os “muitos dos mitos de origem da nacionalidade de cada um dos países sul-americanos (que) incluem a ideia de usurpações e agravos históricos, reais ou imaginários, por parte de seus vizinhos”. E, sobriamente, acrescenta, “A superação desses mitos e ressentimentos é perfeitamente possível – como demonstra a integração europeia –, mas, representa um salto em direção ao futuro, que exigirá liderança, internamente em cada um dos doze países, e uma ação diplomática e firme” (p. 190).

Para isto, lembra Luís Cláudio Villafañe a importância das trocas culturais, do aprofundamento dos estudos da história regional, que sustentariam, no longo prazo, as formas de aproximação política e econômica. Luís Cláudio lembra também que, “ao afirmar a vertente sul-americana da identidade brasileira não se está excluindo completamente as dimensões latino-americanas e continental” (p. 190). Os avanços institucionais da “comunidade sul-americana” são evidentes, com a criação da Unasul.

Porém, mais América do Sul significa maior capacidade de vinculação com a América Latina e com os Estados Unidos e Canadá? Ou menos? E, voltamos aqui, a ligar a história do conceito aos desafios das melhores opções diplomáticas. Que regionalismo queremos? A América do Sul está incorporada ao discurso e é parcela fundamental da ação diplomática. Mas, qual o limite do discurso? Incorpora um projeto? É agregador dos vizinhos? É plataforma para uma abertura para o mundo? Luís Cláudio Villafañe não pretende oferecer respostas, mas, se não refletirmos, como sociedade, sobre as indagações que faz, as respostas diplomáticas correm o risco de serem incompletas.

Gelson Fonseca Jr.

Livro: Duarte da Ponte Ribeiro – pionero de la diplomacia y amistad entre Brasil y Perú (2012)

 
     
       
        Duarte da Ponte Ribeiro (1795-1878), primero representante diplomático do Brasil em Lima, foi um dos nomes mais importantes da diplomacia do Império brasileiro. É considerado o maior especialista do período nas questões de limites entre o Brasil e seus vizinhos, razão pela qual ganhou a alcunha de “Fronteiro-Mor do Império”. Viveu em Lima em três ocasiões: de agosto de 1829 a abril de 1831; de junho de 1837 a julho de 1841; e de julho a novembro de 1851. Negociou e assinou os primeiros tratados entre  Brasil e Peru, sobre limites, comércio e navegação, entre outros temas.

      O livro foi lançado em Lima, Peru, em 27 de novembro de 2012, e está disponível apenas em espanhol.

Sumário do livro:

Agradecimientos

Presentación

     Embajador Carlos Alfredo Lazary Teixeira

Capítulo 1

     Un diplomático del Imperio

Capítulo 2

    El primer representante diplomático de Brasil en Lima (1829-1832)

    Documento: Trecho del informe sobre las repúblicas del Pacífico (1832)

Capítulo 3

     Representante ante la Confederación Perú-Boliviana (1836-1841)

     Documento: Trecho del informe sobre las repúblicas del Pacífico (1841)

Capítulo 4

       La Misión Especial ante las repúblicas del Pacífico y Venezuela (1851-1852)

       Documento: Trecho de las instrucciones a la Misión Especial ante las repúblicas del

Pacífico y Venezuela (1851)

Conclusión

Iconografía

 

Bibliografía

 

Livro: O Evangelho do Barão – Rio Branco e a identidade brasileira (2012)

O Evangelho do Barão: Rio Branco e a identidade brasileira
São Paulo: Editora da UNESP, 2012.
Sinopse
Este livro busca discutir as ideias e o legado de José Maria da Silva Paranhos Júnior, o Barão do Rio Branco, cujo centenário de morte comemora-se este ano. De forma inusitada, o autor questiona o consenso formado em torno das posições do Barão, que influenciaram claramente a política externa brasileira até os anos 1960 e são eventualmente seguidas ainda hoje. O longevo consenso, diz o autor, transformou Paranhos e seu “evangelho” em paradigma em relações exteriores de um país.

A passagem de Rio Branco pela chefia da chancelaria brasileira de 1902 até sua morte, em 1912, coincidiu com um momento especialmente rico em situações que possibilitaram a construção da nacionalidade e a modernização do Brasil. O Barão soube consolidar, nesse cenário, uma determinada visão da identidade internacional do país e do papel que a política externa deveria desempenhar na construção e reafirmação dessa identidade.

O autor enfatiza que sua atuação foi extremamente importante na consolidação do nacionalismo brasileiro, em bases modernas, como esteio ideológico do Estado, após a crise de legitimidade pela qual o país passou com a proclamação da República. E a relaciona à construção de uma nova identidade coletiva para o Brasil, já em bases plenamente nacionais.

No entanto, Rio Branco foi, antes de tudo, um agente político, marcado pelo pragmatismo. E suas ações e diretrizes, que se traduzem em lições ambíguas e contraditórias, permitem a seus pretensos seguidores justificar opções políticas muito distintas entre si. Tanto mais porque ele não deixou um registro sistemático de suas ideias e orientações, que se sustentam por textos isolados, escritos ao sabor das circunstâncias, tais como discursos, cartas particulares, artigos de jornal e instruções às representações diplomáticas no exterior.

Folha de São Paulo, domingo, 22 de julho de 2012

Usos e abusos do barão

O ufanismo vai cedendo nos cem anos de Rio Branco

RESUMO

Figura maior da diplomacia brasileira, José Maria Paranhos Jr., o barão do Rio Branco (1845-1912), morreu ungido por tal unanimidade que só começou a ser visto sem ufanismo nas últimas décadas. Ensaio esquadrinha criticamente a trajetória do chanceler e os mitos que há um século se forjam em torno dele.

MATIAS SPEKTOR

Toda nação vive, em parte, de seus mitos. Poucos têm tanta força entre nós quanto o do Barão do Rio Branco, morto há cem anos.

Ele merece seu lugar no panteão porque expandiu o território nacional sem recurso às armas e sem grandes alianças. O país que representava estava enfraquecido, desarmado e isolado, e sua performance fez toda a diferença.

Mais, Rio Branco fez de si o elo entre o Império derrotado e a República vitoriosa. Com pai ministro, senador, diplomata e chanceler de d. Pedro 2o, ele assistiu à queda da monarquia, mas evitou o exílio típico de muitos de sua classe e serviu a quatro presidentes como ministro das Relações Exteriores sem compunção (1902-12).

Sua adesão à República foi total: pôs a política externa a serviço dos novos-ricos da burguesia agroexportadora e não hesitou em entrar para a vitrine da nova ordem, a Academia Brasileira. Mas, com estilo todo próprio, manteve o título de barão e fomentou a mitologia segundo a qual a diplomacia republicana bebia da fonte de um suposto passado imperial de glórias.

Habilidoso jogador para uns, inescrupuloso camaleão para outros, enfrentou desafetos e inimigos. Para os monarquistas, era um traidor. Para os republicanos, potencial líder da restauração monarquista. Sua política externa foi fustigada na Câmara, no Senado e na imprensa. Mais de uma vez a boataria previu sua queda. Só virou unanimidade depois de morto.

Sobreviveu a quatro trocas de governo em grande parte por seu talento de jornalista e sua rara capacidade de manipular a imprensa. Escreveu prolificamente sob pseudônimos. Leitor compulsivo de jornais, não hesitou em pautar editores, nem a eles queixar-se de coberturas desfavoráveis.

Alimentou calculadamente a imagem de excêntrico. Eram proverbiais a desordem de seu gabinete, a humilde cama instalada em seu despacho no Itamaraty, a caça aos mosquitos com uma vela, a mania de jogar água fria nos gatos que perambulavam pelo ministério e a fobia de elevadores.

O barão também teve sorte. Nos dez anos anteriores a sua posse, o Brasil afundou em hiperinflação e crise política. Revoltas pipocaram no sul, em Mato Grosso e no Nordeste. Na Revolta da Armada, o porto do Rio foi bloqueado e bombardeado. Em 1897, houve um atentado contra o presidente. Em três anos, Floriano Peixoto teve oito ministros do Exterior. Assumindo o Itamaraty em 1902, Rio Branco encontrou debeladas a inflação e as crises, num respiro para a política externa.

Ao morrer de complicações de saúde, ainda ministro, aos 67, em 1912, detinha mais capital político que os presidentes aos quais servira. Estima-se que tenham ido ao enterro 300 mil pessoas, um quarto da população carioca.

BIOGRAFIAS

Em muitos países, uma figura desse naipe seria objeto de ricas e divergentes biografias. Não aqui. A literatura sobre o barão é escassa, ignora a farta documentação disponível sobre ele em arquivos estrangeiros e mantém-se irritantemente laudatória.

Álvaro Lins, Jarbas Maranhão, Afonso de Carvalho e Renato Sêneca Fleury lançaram hagiografias no centenário de nascimento (1945). Quinze anos depois, Luis Viana Filho publicou trabalho um pouco mais rigoroso. O conjunto faz do barão um herói irretocável. Nos anos 2000 começou a aparecer algum questionamento, ainda que tímido. Rubens Ricupero, em seu “Rio Branco, o Brasil no Mundo” (2000), abre avenidas de investigação em brevíssimas 70 págs. Cristina Patriota faz o mesmo no também breve “Rio Branco, a Monarquia e a República” (2003).

Ler a respeito de Rio Branco ainda é frustrante. Do conjunto das obras existentes, aprende-se que ele era “coerente”, “seguro”, “inovador”, “singelo”, “lúcido”, “despretensioso” e, curiosamente, conseguia ser “tímido” e “extrovertido” ao mesmo tempo. Como se tivesse poderes do além, “não falhou em nada que empreendeu”.

Por isso é um sopro de lucidez o novo livro do diplomata e historiador Luís Cláudio Villafañe G. Santos, “O Evangelho do Barão” [Editora Unesp, 174 págs., R$ 36]. Corretivo necessário, põe em perspectiva o que houve de incoerente, inseguro e pretensioso na trajetória do barão, sem reduzir a genialidade do homem e de seu projeto político. Com “O Dia em que Adiaram o Carnaval” (2010), do mesmo autor, trata-se da melhor leitura, ainda que analítica, não propriamente biográfica.

Fica para o futuro a tarefa de desmontar dois mitos persistentes a respeito do barão: a suposta busca da liderança regional no entorno sul-americano e a suposta “aliança não escrita” com os EUA.

EQUILÍBRIO

Rio Branco era devoto da teoria do equilíbrio de poder. Entendia que todo protagonismo brasileiro levaria os vizinhos do Prata e do Amazonas a formar uma coalizão antibrasileira. Chegou a confidenciar a um interlocutor que “nenhum país de língua espanhola é bom e nenhuma pessoa de sangue espanhol é confiável”.

Não era à toa. A Argentina, antiga rival, encontrava-se em franca ascensão. O Brasil de Rio Branco era relativamente fraco. Em 1906, por exemplo, nossa dívida pública era o dobro da argentina, o comércio exterior, metade, assim como a rede de linhas telegráficas. A Argentina tinha 21.600 km de trilhos; o Brasil, para um território muito maior, apenas 16.800 km. A força naval argentina era bem superior.

Em 1908, o barão estava seriamente preocupado com um ataque militar argentino. O governo de lá era, disse ele, “tresloucado”. Ainda jovem, escrevera: “Não temos esquadra, não temos torpedos, não temos Exército, e os argentinos têm tudo isso”. Pediu recursos para armar o Brasil, sem sucesso.

Assim, em posição de fraqueza relativa, Rio Branco fez três movimentos. Primeiro, acelerou a negociação das fronteiras, para evitar que possíveis conflitos militares ganhassem vulto -o Brasil não tinha condições de vencer.

Segundo, construiu um edifício conceitual calcado nos princípios de não intervenção, satisfação territorial e negociação de diferenças sem recurso à força. Fez isso porque o país não tinha alternativa.

Terceiro, Rio Branco propôs um acordo de “cordial inteligência” entre Argentina, Brasil e Chile, o ABC. Tratava-se de um modelo para mitigar a competição e criar canais de comunicação entre seu rival (Argentina) e o rival de seu rival (Chile). Esse “condomínio” para manter a região estável -o Brasil não podia se dar ao luxo da guerra- permitiria limitar efeitos negativos da ascensão argentina.

Buenos Aires descartou o ABC. Os dois países logo entrariam em uma corrida por poder, prestígio e influência que só se resolveria, em favor do Brasil, 60 anos mais tarde.

EUA

Todo manual de história diplomática -e todo livro sobre Rio Branco- repete a mesma tese: o chanceler teria feito dos Estados Unidos o principal aliado do Brasil republicano. Foi o historiador americano E. Bradford Burns que desenvolveu o conceito em seu “A Aliança Não Escrita: Rio Branco e as Relações do Brasil com os EUA”, de 1966 (EMC, 2003).

A tese está equivocada: nem Rio Branco aliou-se aos EUA, nem os americanos fizeram do Brasil um aliado. A aproximação foi intensa, mas não menos parcial, conflituosa e frustrante para os dois países.

O barão não tinha ilusões. “Prefiro que o Brasil estreite as suas relações com a Europa a vê-lo lançar-se nos braços dos EUA”, escreveu antes de assumir. Quem pedia uma “aliança tácita, subentendida”, era Joaquim Nabuco, seu embaixador em Washington.

Rio Branco não evitou rotas de colisão. Em 1906, frustrado com a falta de cooperação dos EUA na 3a Conferência Pan-Americana, no Rio, provocou seu chanceler Elihu Root: “[A Europa] nos criou, ela nos ensinou”. Tensão maior ocorreria em 1907, em Haia.

Uma consulta aos arquivos diplomáticos de Washington revela desconfiança em relação ao Brasil, preocupação em não hostilizar ou isolar a Argentina e sobretudo boa dose de indiferença. Do ponto de vista americano, não havia aliança, nem nada parecido.

Rio Branco usou o vínculo instrumentalmente e com vistas a tirar vantagens para o Brasil e para si mesmo. Mostrar-se como um aliado de Washington rendia frutos políticos internos, pois a República brasileira se identificava com o federalismo americano (“Somos da América e queremos ser americanos”, diz o manifesto de 1870). De quebra, na Revolta da Armada os EUA apoiaram Floriano Peixoto contra os monarquistas.

O chanceler também usou os EUA como escudo. Ele temia que a expansão neocolonial europeia se espraiasse em áreas de fronteira malcuidadas como Amapá, Roraima e o rio Amazonas.

Quem poderia nos ajudar? “As definições da política externa norte-americana são feitas”, explicava ele em 1905, “sem ambiguidades, com arrogante franqueza, sobretudo quando visam os mais poderosos governos da Europa, e o que acontece é que estes não protestam nem reagem, antes acolhem bem as intervenções americanas.”

USOS E ABUSOS

Há cem anos, o nome do Barão é usado e abusado. Nas palavras de Villafañe, trata-se de uma verdadeira “santificação de Rio Branco na religião laica do nacionalismo”.

Seus sucessores, por exemplo, justificaram políticas controversas apelando para o patrono. Nos anos 1940, Oswaldo Aranha o usou para convencer o público a aceitar lutar junto aos EUA na Segunda Guerra Mundial. Na década de 1960, Mario Gibson Barboza invocou-o para explicar a expansão do mar territorial brasileiro em 200 milhas.

Nos anos 1990, Celso Lafer ancorou nele a decisão de fazer concessões à Argentina. Nos 2000, Celso Amorim viu nele as sementes da Unasul. Agora, Antonio Patriota afirma que a aproximação do Barão aos EUA -naquele momento uma potência periférica- inspira a proximidade atual aos Brics (China, Índia, Rússia e África do Sul).

Nada disso surpreende. O barão, quando chanceler, também forjou mitos para justificar-se. Seus sucessores, ainda que sem o seu estilo, não fizeram mais do que segui-lo.

Livro: Rio Branco – 100 anos de memória (2012)

 
 


     Catálogo da exposição “Rio Branco: 100 Anos de Memória”, mostra preparada pelo Ministério das Relações Exteriores e pela Fundação Alexandre de Gusmão por ocasião do centenário da morte do patrono da diplomacia brasileira. (disponível para download no site da FUNAG). 
 
     Ademais da seleção de temas e imagens para a exposição e o catálogo, o curador é autor de todos os textos, com exceção da apresentação, a cargo do Ministro das Relações Exteriores, Embaixador Antonio Patriota.   

Livro: O Dia em que Adiaram o Carnaval – política externa e a construção do Brasil (2010)

SUMÁRIO

 APRESENTAÇÃO – Maria Lígia Coelho Prado

 O BARÃO, SANTO NO ALTAR DA NACIONALIDADE

 BRASIL OU BRASIS?

 UM IMPÉRIO TROPICAL

 SOMOS DA AMÉRICA E QUEREMOS SER AMERICANOS

 O BARÃO E OUTROS SANTOS

 A CONSCIÊNCIA DO ATRASO

 ROMPENDO COM O BARÃO?

 CONCLUSÃO

      O governo brasileiro anunciou, em 1912, uma medida inédita: protelou de fevereiro para abril as comemorações carnavalescas por luto nacional. É que, na véspera da tradicional festa, morria José Maria Paranhos da Silva Junior, o Barão do Rio Branco, diplomata tido como um dos “santos de nossa nacionalidade”. Mas o povo não desperdiçou a ocasião e brincou o carnaval nas duas datas.

    Esse episódio inusitado, que mistura diplomacia e festa popular, enseja a profícua reflexão que o novo livro de Luís Cláudio Villafañe G. Santos nos apresenta. O legado do Barão do Rio Branco é o mote para uma sofisticada análise sobre a ideia de Brasil e de nação a partir da influência da política externa.

    Tema caro às Ciências Sociais, a nacionalidade revela-se nesta obra como uma construção multifacetada. O autor percorre a história brasileira do século XIX aos dias atuais e mescla, com densidade, referências ecléticas, que vão das raízes dos nossos “símbolos” culturais – os bailes de Carnaval e o futebol – ao constante diálogo com as questões geopolíticas.

    Nessa trajetória, Villafañe ressalta o papel do nacionalismo e do território; daí a importância do Barão do Rio Branco e de sua atuação na consolidação das fronteiras nacionais. Nas palavras do autor: “Ainda hoje, a referência ao que seriam as diretrizes do Barão permanece um dos eixos inevitáveis da retórica sobre a política externa do país. A legitimação de muitas escolhas políticas continua a passar pela sacralização que lhe confere uma suposta origem nas ideias e práticas de Rio Branco”. Tecendo sofisticados elos entre política e cultura, O Dia em que Adiaram o Carnaval constitui-se, assim, como referência fundamental para quem procura entender as intricadas vinculações da identidade nacional com as relações exteriores brasileiras.

A obra foi amplamente resenhada por jornais e revistas científicas brasileiras e estrangeiras.

RESENHA PUBLICADA NA “HISPANIC AMERICAN HISTORICAL REVIEW (2013) 93(3): 499-500.

AUTOR DA RESENHA: Peter M. Beattie, Michigan State University

O Dia em que adiaram o carnaval: Política externa e a construção do Brasil. By Luís Cláudio Villafañe G. Santos. São Paulo: Editora UNESP, 2010. Notes. Bibliography. 278 pp. Paper, R$ 40.00.

 

              This book’s title refers to the Brazilian government’s effort to suspend the celebration of Rio de Janeiro’s Carnaval in 1912 from February until April to mourn the death of the nation’s premier diplomat, the Barão do Rio Branco (José Maria da Silva Paranhos Jr.), who died the Saturday before Ash Wednesday. The common citizens of Rio de Janeiro, however, honored Rio Branco in their own fashion by celebrating Carnaval twice that year. Villafañe uses this extraordinary event to introduce his examination of Brazilian national identity through the little-considered lens of its international diplomacy and Itamarati’s most celebrated historical figure: Rio Branco. For the author, “Num mundo de Estados-nações, a política externa é fator primordial na definição do caráter da nação” (p. 43). This hypothesis is the point of departure for a broad survey of Brazilian foreign relations in tandem with evolving conceptions of Brazilian national identity from late colonial to contemporary times.

              Villafañe argues that because Brazilian identity came into existence after Brazilians won independence from the Portuguese, Rio Branco’s diplomatic work to define the limits of Brazil’s national territory made him a founding father after the fact. To support this assertion, he examines a stained glass representation in Washington DC’s National Cathedral celebrating the first Pan-American Congress in 1826 that uses three principal images of Latin American patriots: Simón Bolívar, José Francisco de San Martín, and Rio Branco. In this representation, an artist clearly depicts Rio Branco as a symbol of Brazil and associates him anachronistically with the founding fathers of Spanish American nations. Villafañe, however, does not reveal the stained glass artist’s identity. The Baltimore native Rowan LeCompte designed most of the windows in Washington’s National Cathedral, but I was unable to confirm that he had designed that particular window. In any case, it is doubtful that this stained glass representation reveals how Brazilians understood the place of Rio Branco in their pantheon of national heroes rather than how an American artist interpreted this pantheon. This representation of Rio Branco graces the cover of the book, but its centrality to the author’s argument seems a bit of a stretch. This, however, is a minor criticism, because the author provides many other examples and interpretations of Rio Branco’s prestige within Brazil.

              The strength of this manuscript is the author’s agile analysis of the evolution of the Brazilian government’s foreign policy, which Rio Branco’s diplomacy shaped for most of the twentieth century. He argues that Rio Branco came to prominence in the early twentieth century because he fit the historical patriotic moment better than other figures. The transition from a constitutional monarchy to a republic in 1889 promoted the image of Tiradentes, leader of a failed republican conspiracy in the eighteenth century, as a symbol of national unity. Meanwhile, the military tried to promote the heroes of the Paraguayan War, principally the Duke of Caxias, in the early republic as symbols of national unity, but the duke’s association with loyalty to the monarchy made him a less than ideal symbol for the new republic. The barão’s image as a republican man of peace who settled most of Brazil’s border disputes through international law fit the way most influential Brazilian intellectuals and politicians sought to project the image of their nation in the early twentieth century. Brazilians lived peacefully with neighbors and other nations across the world. For Villafañe, Brazilian leaders in the early twentieth century debated how Brazil should present itself and interact with the international community, and for all practical purposes, Rio Branco best captured their conclusions (p. 186). Rio Branco was not associated with the fractious politics of Brazil’s past, and his success in international negotiations reinforced the image of a peaceful Brazil. The author points out the contradiction that this image was often at odds with the disorder and violence of Brazil’s early republic, which was convulsed by events such as the 1893–1894 Armada Revolt, the 1896–1897 Canudos Rebellion, the 1910 Chibata Revolt, and the 1912–1916 Contestado Revolt, among others.

              Villafañe successfully shows how foreign policy involves and invokes narratives and images that helped to define and reshape conceptions of Brazilian national identity and character, but he recognizes that this mostly top-down, state-led project had its limits. To demonstrate this, he returns to the state’s ham-handed efforts to reschedule Carnaval in 1912. He transcribes the lyrics of a samba march sung during the second celebration of Carnaval that lampooned the government: “Com o morte do Barão / Tivemos dois carnavá / Ai que bom, ai que gostoso / Se morresse o marechá” (p. 265). The government’s failed attempt to enshrine Rio Branco in the public memory by delaying the mirth of Carnaval had the unintended consequence of encouraging a Carnaval wag to imagine how good it would be if Brazil’s president, Marshal Hermes da Fonseca, would also die so that they could celebrate Carnaval yet again. A confluence of popular and elitist projects and representations shaped national identity and memory, a process that often escaped the control of political authorities.

Peter M. Beattie, Michigan State University 

 

Resenha publicada na edição de 19/02/2011 do jornal “O Estado de São Paulo”

Como Rio Branco inventou o Brasil

19 de fevereiro de 2011 | 0h 00

 MARCOS GUTERMAN – O Estado de S.Paulo

Em tempos de ufanismo revisitado, que a propaganda estatal reduz ao “orgulho de ser brasileiro” em relação ao resto do mundo, o livro recém-lançado O Dia em Que Adiaram o Carnaval (Unesp), do diplomata e historiador Luís Cláudio Villafañe Gomes Santos, revela-se um ensaio precioso, ao reconstituir a invenção da nacionalidade brasileira.

O título da obra diz respeito à curiosa ordem do governo republicano de adiar o carnaval em respeito à morte de José Maria da Silva Paranhos Júnior, o Barão do Rio Branco, em 10 de fevereiro de 1912. Rio Branco tinha status de astro, porque lhe era atribuído o feito de ter desenhado as fronteiras do País – isto é, de ter dado um “corpo” à pátria que estava sendo criada.

Villafañe faz uma reflexão sobre o mito do Barão como construtor da nacionalidade e sua identificação com uma “certa ideia de Brasil” quase um século depois da independência. Trata-se de uma “paralisadora herança”, como comentou o embaixador Rubens Ricupero a propósito da persistente imagem de um país que atua no exterior tendo como lastro o genoma da “tolerância natural do brasileiro”, descrito por Stefan Zweig em Brasil, País do Futuro (1941).

O modo como o Brasil se enxerga no mundo, traduzido em sua política externa, é portanto o eixo em torno do qual Villafañe trabalha. A construção política dessa entidade, mostra o autor, começa como afirmação antilusitana e, ao mesmo tempo, como contraponto monárquico “ordeiro” ao “caos” republicano dos vizinhos latino-americanos. A “nação brasileira” que surge daí é formada por brancos europeus ricos. A escravidão criará o desconforto de uma imensa massa de pessoas que estão em toda parte, mas não integram a nação.

O sentido nacional só se completará no período republicano, mas a desigualdade social dificultou drasticamente a legitimidade do Estado. A “invenção” do Brasil, naquela oportunidade, dividia-se entre o passado português e a afirmação do mundo americano, sem lugar, contudo, para os brasileiros comuns.

Mesmo a república, porém, não ofereceu à massa, de imediato, um lugar na construção da identidade nacional brasileira. Foi preciso que houvesse a difusão das culturas ditas “subalternas”, contaminando a atmosfera da elite com o carnaval e o futebol como elos da nacionalidade. Foi necessário ainda criar “heróis” para representar o evangelho republicano – e Tiradentes foi o primeiro deles, embora tenha sido representante de um movimento que nem de longe era nacionalista; mas o alferes (ou a imagem que foi criada para ele) era alguém construído para simbolizar a união dos cidadãos, a participação popular e a luta autêntica pela independência.

A identidade internacional do Brasil, diz o autor, tem como referência fundamental, desde seu início como país independente, a América – entendida primeiramente como os EUA e depois como as repúblicas latino-americanas. O Brasil foi o único país americano que, em sua independência, não desenvolveu proximidade com a ideia de ruptura com o modo de vida europeu. Com a república, o antiamericanismo monárquico foi substituído pela defesa do “espírito americano”. É justamente com Rio Branco que a aliança com os EUA se consolida, sob a perspectiva de domínio geral estadunidense nas Américas e na hegemonia brasileira no nível sul-americano.

A partir de Getúlio Vargas, e desde então com esporádicos intervalos, a política externa brasileira se fundaria na dimensão do desenvolvimento econômico nacional em contraponto ao Hemisfério Norte, num apenas aparente afastamento do evangelho de Rio Branco. No início da Guerra Fria, o Brasil viu-se em condições de invocar o americanismo do Barão para cobrar tratamento preferencial dos EUA. A frustração com a resposta vaga de Washington a esse pleito – e também à promessa de um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU, feita pelo presidente Franklin Roosevelt a Vargas – empurrou o Brasil para uma aproximação maior com os demais países latino-americanos e para a ideia de que havia um bloco regional de subdesenvolvidos, entre os quais os brasileiros passaram a se incluir, que precisavam ser ouvidos.

Esse bloco se considerava moralmente superior às potências globais, porque seria vítima da corrida armamentista e das guerras imperialistas. Tal movimento rompeu a bipolaridade Leste-Oeste da Guerra Fria e estabeleceu a complexidade do debate Norte-Sul, com a defesa de um modelo de desenvolvimento fortemente estatal, em contraponto à doutrina democrático-liberal que se consideraria vitoriosa na queda do Muro de Berlim e que se fazia representar pelos EUA, justamente o “outro” na relação com a América Latina ao longo do século 20.

A identificação latino-americana, de tão importante para a nova etapa da ideia de nação brasileira, foi inscrita na Constituição de 1988. O discurso do Brasil hoje, sobre seu lugar no mundo, é fincado essencialmente na afirmação da liderança continental, ainda tendo como referência os EUA, numa inequívoca demonstração da resistência, mesmo controversa, da herança do Barão do Rio Branco – o nosso “Founding Father”. 

Resenha publicada na revista Política Externa, Vol. 20 nº 1, jun/jul/ago 2011, págs. 217-221.

Por Boris Fausto (historiador e membro da Academia Brasileira de Ciências)

O dia em que adiaram o carnaval,  título do livro do diplomata Luís Cláudio Villafañe G. Santos, sugere uma incursão no terreno da micro-história. Porém, ao mesmo tempo, o subtítulo nos remete a um tema muito mais amplo: o papel da política externa brasileira na construção da nacionalidade e do sentimento nacional.

O barão do Rio Branco insere-se nessa abordagem não apenas como ilustração de capa – uma fotografia de sua figura num vitral da Catedral Nacional de Washington –, mas por seu papel relevante na consolidação das fronteiras do Brasil e de uma linha diplomática que se iniciou a partir da Proclamação da República.

Faz todo sentido tomar a dimensão da política externa como elemento constitutivo da nacionalidade porque é nessa esfera que surge, nitidamente, a dimensão do “outro”, contraposta à dimensão do “nós”. Villafañe assinala também que, no plano das relações internacionais, é mais fácil concentrar-se nos pontos em que, na teoria, há um interesse comum a toda a comunidade e ocultar as contradições internas de cada sociedade. Além disso, a percepção, por um lado, de agravos históricos, perdas territoriais, espoliação, ou, por outro lado, de um destino manifesto ou de uma visão civilizadora são elementos que marcam fortemente os sentimentos nacionais (p. 184).

Tendo presente o foco central do livro, Villafañe busca precisar as noções com as quais lida; ao mesmo tempo, com idêntico objetivo, percorre o processo histórico brasileiro, dos tempos da Colônia aos dias de hoje. Ao elucidar noções, o autor toma-as como uma construção histórica, rejeitando assim, a tese de que os Estados e as nações seriam entidades naturais, decorrentes de uma cultura e de uma origem étnica e territorial comum.

Acrescentemos que a ideia de nação e o sentimento nacional variam ao longo do tempo. Mais ainda, a comunidade imaginária, na consagrada expressão de Benedict Anderson, que pressupõe homogeneidade e universalidade, encerra um problema porque tem uma dimensão social diferenciadora particularmente acentuada nos países marcados por uma forte desigualdade. Em poucas palavras, serão os mesmos os elementos e símbolos de que se compõe o sentimento de nacionalidade das elites, das massas trabalhadoras ou de outras camadas da população?

No caso brasileiro, considerando-se a baixa escolarização da maioria da população brasileira, parece certo que a escola – um dos grandes fatores para se inculcar a noção de nacionalidade – tem no Brasil um papel muito menor do que em outros países, como é o caso da vizinha Argentina, na construção de uma história nacional teleológica, cujas etapas pressupõem um inescapável ponto de chegada, em que se afirma a nação, com seu território, sua cultura e características próprias.

Um dos muitos méritos do livro consiste no já referido propósito de distinguir noções, de uma forma clara e, tanto quanto possível, precisa. Se a distinção entre Estado e nação não oferece grandes dificuldades, o mesmo não se dirá da caracterização de pátria e nação, noções muito próximas, que ora se aproximam, ora se afastam.

Nesse ponto, Villafañe poderia ter aprofundado a noção de pátria, a que dedica apenas algumas linhas. A distinção é importante, como se constata, exemplificando, por uma observação do autor, ao sintetizar as características do nosso Segundo Reinado, na época imperial: “Assim, o desenvolvimento de um sentimento nacional brasileiro, como apego à comunidade imaginada definida por Anderson, seria um projeto desenvolvido apenas a partir da decadência do Império. É indiscutível, no entanto, que durante o período imperial se consolidou entre grande parte da população, o sentimento do Brasil como pátria comum de todos, de norte a sul, de leste a oeste, uma noção ausente antes da Independência” (p. 94).

Entrando no exame do processo histórico brasileiro, o autor deixa de lado a linha teológica que encara episódios como a guerra contra os holandeses, ou a Inconfidência Mineira, como germes da formação da nacionalidade. Tais episódios revelariam a existência na Colônia de fortes sentimentos localistas, suficientes para gerar revoltas, mas que não tinham, entretanto, abrangência além de suas “pátrias” locais (p. 47).

Se, na visão de Villafañe, a noção de pátria na época colonial teve caráter localista, se o Império estendeu essa noção a todo o território nacional, mas sem constituir a ideia de nação, quais seriam os momentos cruciais da consolidação dessa ideia? Citando José Murilo de Carvalho, o autor enfatiza que durante a Primeira República a busca de uma identidade coletiva para o país, de uma base para a construção da nação, seria tarefa que iria preocupar a geração intelectual do período. Sem dúvida, a observação é verdadeira, mas convém notar que, na esfera da vida social e política, o sistema oligárquico republicano chocava-se com esse esforço intelectual. Muito mais do que a noção homogeneizadora de nação, o que predominou no período, no plano interno, foi o sentimento de “pátrias regionais, como a Revolução de 1932 demonstrou de forma eloquente.

Mas, ao mesmo temo, o campo da política externa, sobretudo nos primeiros anos da Primeira República, contribuiu em muito para a construção da ideia de nação. Como bem assinala Villafañe, a virada do século XIX para o século XX representou um período de grande tensão nas relações internacionais ao sul do continente americano e de seguidas intervenções estadunidenses no Caribe e na América Central.

Nesse contexto, a preocupação maior da diplomacia brasileira concentrou-se no esforço por liquidar controvérsias de fronteiras e a aquisição de um território, como foi o caso do Acre. Ao mesmo tempo, processou-se a passagem de uma estreita aproximação com a Inglaterra, não sem contradições, para uma “aliança não escrita” com os Estados Unidos, desde os primeiros tempos do regime republicano.

Nesse contexto, o barão do Rio Branco surge como a personalização dos novos tempos. Villafañe lembra que ele alcançou uma súbita e impressionante notoriedade em 1895, com o laudo que definiu a soberania brasileira na região de Palmas, no confronto com a Argentina. A esse primeiro e importante êxito, seguiu-se uma nova vitória, na definição dos limites com a Guiana Francesa, na região do Amapá. Como ministro das Relações Exteriores, de 1902 a 1912, o barão foi personagem central na compra do Acre à Bolívia; a partir de 1907, firmou tratados com a Guiana Holandesa (Suriname), com a Colômbia, o Peru e o Uruguai.

Seguindo adiante, a formação de uma identidade nacional, ao longo do século XX, tem como ponto crucial, após a Revolução de 1930, os longos quinze anos do governo Vargas e o seu chamado segundo governo, entre 1951-1954. Só nessa época, a ideia de nação se universaliza, alcançando, a rigor, todas as camadas sociais. Ponto importante, é o Estado centralizado quem promove a nação, sob várias formas, com destaque para um importante ingrediente: a política de desenvolvimento econômico e social.

Nesse ponto, o autor faz referência a várias iniciativas, bem esmiuçadas por nossa historiografia, muitas delas datando significativamente do Estado Novo, quando se deu a criação do Departamento de Imprensa (DIP), em 1939, antecedido, desde 1931, por órgãos menos abrangentes, destinados à propaganda e à difusão cultural.

Como se sabe, as atividades do DIP não se restringiram à censura dos meios de comunicação, como marca da ditadura estadonovista, mas se estenderam a muitos outros campos, paralelamente às iniciativas do Ministério da Educação e Cultura, sob a batuta do ministro Gustavo Capanema. Os objetivos governamentais consubstanciados na formação dos jovens e no incentivo à afirmação do sentimento nacional concretizaram-se nos currículos escolares, na produção de cartilhas para as escolas públicas e privadas, nos filmes de propaganda, na irradiação obrigatória da “Hora do Brasil”, nos desfiles e paradas escolares, na comemoração de datas cívicas, como a Proclamação da Independência, o Dia da Juventude, o Dia do Trabalho, o Dia da Raça, o Dia do Soldado, o Dia da Bandeira.

Além disso, o comportamento do governo Vargas, no plano da política externa, durante a Segunda Guerra Mundial, veio contribuir para reforçar o nacionalismo e a irradiação do sentimento nacional. A opção pelo alinhamento com os Estados Unidos, após a aproximação com a Alemanha nazista, desdobrou-se em episódios como o afundamento de navios na costa brasileira pelos submarinos alemães, a ruptura de relações com a Alemanha e a Itália, a declaração do estado de guerra e, por fim, o envio da Força Expedicionária Brasileira para lutar nos campos da Itália. Conviria ainda lembrar a luta pelo monopólio estatal do petróleo, no segundo governo Vargas, que transcendeu as intenções governamentais e se traduziu em mobilizações populares em todo o país, nas quais associaram-se a corrente nacionalista e os setores de esquerda, com o PCB à frente.

Depois de examinar a questão da mudança das relações entre o Brasil, os Estados Unidos e os demais países sul-americanos, a partir dos anos sessenta do século passado, Villafañe encara o futuro sob a forma de perguntas, nas quais ecoam sua visão dinâmica e a temporalidade do nacionalismo, surgindo também aí suas ressalvas com relação ao fenômeno: “Quando o mundo dos nacionalismos for superado, não será fácil entender e explicar como essa visão do mundo tão limitada pode ter sido tão importante. Que empatia despertarão as bandeiras, os hinos e os discursos sobre nações que foram inventadas e terão desaparecido com seus seguidores? Como se entenderá esse sentimento sobre linhas desenhadas em mapas? Como se explicarão os crimes e as façanhas cometidas em seu nome?” (p. 252). Poderíamos parar por aqui, com essas perguntas tão enigmáticas e tão sugestivas, assinalando a dificuldade de gerações futuras em entender o mundo em que vivemos.

Mas prefiro voltar ao título do livro porque, a partir dele, desdobra-se, num exemplo concreto, o tema já abordado das variações da ideia de nacionalidade, em função das diferenças sociais. O episódio da morte do barão do Rio Branco faz pensar e permite sugerir a exploração de novos caminhos. Sem dúvida, a repercussão da morte do barão, a 10 de fevereiro de 1912, evidenciou eloquentemente seu prestígio, sua posição entre nossos “santos” ou nossos heróis. Falam alto as manifestações desse dia, no Rio de Janeiro, quando as repartições públicas, o comércio, os escritórios das empresas, os cinemas, os centros de diversão fecharam, e mais do que tudo, o carnaval foi adiado oficialmente.

Mas é lícito duvidar que o barão do Rio Branco, figura extraordinária, ícone do Itamaraty e dos setores cultos da população, cale fundo na “alma popular”. Mesmo naquele ano de 1912, em que as autoridades adiaram o carnaval para o mês de abril, o povo brincou duas vezes, em fevereiro e em abril, apesar da atmosfera de luto. Seria excessivo dizer que a massa da população – o “povão” na linguagem de hoje – entronizou no altar da nacionalidade, em vez dos “santos” oficiais outros “santos”, nascidos de paixões como o carnaval e o futebol?

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Resenha publicada na edição de 05/03/2011 do jornal “O Globo”     

O ano em que houve dois carnavais

Roberta Jansen

Morte do Barão do Rio Branco fez governo adiar a festa, mas povo brincou duas vezes

É o sonho dos foliões mais animados; uma verdadeiro pesadelo para quem é avesso aos festejos: comemorar o carnaval duas vezes por ano. Por incrível que pareça, isso já aconteceu uma vez no Brasil, em 1912, por conta da morte do Barão do Rio Branco – tido como responsável pela consolidação do território nacional e, por isso, aclamado herói. A fascinante e bem pouco conhecida passagem foi resgatada pelo historiador e diplomata Luís Cláudio Villafañe G. Santos. No recém-lançado “O Dia em que adiaram o carnaval – política externa e a construção do Brasil (Ed. Unesp), ele a utiliza como ponto de partida para discorrer sobre a construção da nacionalidade brasileira.

       Não que o povo tenha ficado feliz com a morte do Barão. Longe disso. Ele realmente era muito admirado pela população. Sua morte, em 10 de fevereiro de 1912, a uma semana do início das comemorações do carnaval daquele ano, foi bastante lamentada. Como mostra Santos, em seu livro, o jornal “A República” não economizou na emotividade: “Nenhum brasileiro atingiu mais alto o culto da veneração popular. O Barão do Rio Branco era verdadeiramente um patrimônio nacional. A nação que o amou em vida, há de idolatrar-lhe reverentemente a sua memória”.  A “Gazeta de Notícias” também não fez por menos, registrando, ao noticiar a morte, que “o país inteiro soluça”.

– Pela documentação que juntei, houve, de fato, uma reação muito forte da população – conta o historiador.

Como registra Santos, de forma espontânea, independentemente do luto oficial, o comércio fechou as portas, bem como os bancos e escritórios privados, além das repartições públicas. Os cinemas e os teatros não funcionaram naquele dia. E bailes e festas foram cancelados. Logo, o governo determinou que, em virtude do luto, as comemorações não começassem no dia 17 de fevereiro, conforme previsto no calendário, mas fossem transferidas para 6 de abril, em sinal de respeito.

Acre é anexado: nova vitória de Rio Branco

José Maria da Silva Paranhos Júnior, o Barão do Rio Branco, era adorado pelo povo. Em 1902, quando retornou ao Brasil para assumir o Ministério das Relações Exteriores, ele foi aclamado nas ruas pela mesma população que, dez anos depois, chorava copiosamente sua morte.

– Ele já era um personagem bem popular quando voltou do exterior – atesta Santos.

– Uma multidão o esperava no porto, onde desembarcou, e acompanhou sua carruagem pelas ruas. Quando, num determinado ponto, os cavalos não puderam prosseguir, estudantes se ofereceram para puxá-la. Enfim, uma volta triunfante, extraordinária.

E não é para menos. O Barão, que na época ocupava o posto de Embaixador na Alemanha, tinha servido de advogado brasileiro em duas arbitragens internacionais cruciais à delimitação de nossas fronteiras: a de Palmas, em 1895, em que conseguiu assegurar para o Brasil boa parte do território dos estados de Santa Catarina e Paraná em litígio com a Argentina; e a do Amapá, em 1900, em que obteve uma vitória sobre a França na disputa da fronteira com a Guiana Francesa.

Foi justamente o prestígio obtido nesses dois casos que fez com que o então Presidente Rodrigues Alves escolhesse o Barão do Rio Branco – a quem sequer conhecia pessoalmente – para ocupar o posto máximo da diplomacia do país naquele ano de 1902, em que o governo se via às voltas com uma nova discussão sobre fronteiras, desta vez com a Bolívia, pelo então território do Acre. A despeito da oposição de nomes de grande peso da época, como os de Rui Barbosa e Pinheiro Machado, o Barão conseguiu aprovar o Tratado de Petrópolis, pelo qual o país anexava o Acre mediante pequenos territórios na fronteira com o Mato Grosso, uma indenização em dinheiro, e a ferrovia Madeira-Mamoré.

– Houve uma grande discussão no Congresso e na imprensa, e forte oposição ao tratado. Mesmo assim, ele acabou sendo aprovado, no que, até hoje, é considerada uma grande vitória do Rio Branco – afirma Santos. – Ou seja, o Barão, que já tinha retornado ao país com a popularidade em alta, obteve sucesso com a questão do Acre logo no seu primeiro ano, promovendo uma escalada de sua popularidade.

Por tudo isso, sustenta Santos, a tristeza gerada pela morte do Barão é bastante plausível.

– Os jornais todos da época registram uma grande comoção popular, com pessoas chorando nas ruas, cinemas fechados, um impacto grande – diz o historiar. – Dado o contexto, a reação me parece coerente.

Foi diante dessa situação que o governo do Marechal Hermes da Fonseca decidiu, então, adiar o Carnaval. Não funcionou. Os brasileiros acabaram festejando duas vezes. Uma, em fevereiro mesmo, a despeito do luto. Outra, de 6 a 10 de abril, seguindo as determinações governamentais. A irreverência prevaleceu, como atesta a letra da marchinha feita para o segundo Carnaval: “Com a morte do Barão/Tivemos dois carnavá/Ai que bom, ai que gostoso/Se morresse o marechá”, numa referência nada sutil à possível morte do presidente.

 Carnaval remonta ao período colonial

            E se a consolidação do território brasileiro, com a definição de suas fronteiras, foi crucial na construção de uma identidade nacional, como mostra Santos, o carnaval também o foi.

– O carnaval tem uma história que vem da Colônia, com o chamado entrudo, em que as pessoas jogavam água, farinha, xixi umas nas outras – conta Santos. – Com o fim do Império, ele começa a incorporar os batuques africanos; o Rei Congo, em que os negros representam suas realezas. Na virada do século XX, quando o Rio vive um período importante de modernização, começa também a importar aspectos do Carnaval europeu, do Rei Momo, do Pierrô e da Colombina. Então, esse momento da virada do século, é justamente o momento em que o carnaval começa a ganhar uma aceitação social mais ampla.

E é também na virada do século, mais precisamente em 1896, que o futebol entra no país. Junto com a noção de territorialidade, dois importantes símbolos nacionais.

– Ou seja, dois dos mais fortes simbolo nacionais são bem recentes – afirma Santos. – Símbolos da identidade que parecem eternos e muito antigos, na verdade, não o são. É o mesmo caso da extroversão e alegria do brasileiro que é bem recente.

Mas, como frisa o pesquisador, não se tratam, necessariamente, de noções construídas pelo Estado.  – O Estado tem um papel importante, mas ninguém controla a construção da identidade – diz o diplomata. – Há uma circularidade das ideias. As massas, as classes subalternas trabalham as ideias. O produtos final, ninguém controla. Não há exatamente uma pessoa conduzindo o processo.

Revista Brasileira de História

Print version ISSN 1806-9347

Rev. Bras. Hist. vol.31 no.62 São Paulo Dec. 2011

http://dx.doi.org/10.1590/S0102-01882011000200017

RESENHAS

 Santos, Luís Cláudio Villafañe G. O dia em que adiaram o Carnaval: política externa e a construção do Brasil

Tereza Maria Spyer Dulci

Doutoranda, Departamento de História, FFLCH/USP; bolsista Fapesp, Av. Prof. Dr. Lineu Prestes, 338 – Cidade Universitária. 05508-000 São Paulo – SP – Brasil, E-mail: terezaspyer@hotmail.com

São Paulo: Ed. Unesp, 2010. 278p.

O livro de Luís Cláudio Villafañe G. Santos impressiona desde o começo, pelo título, que relaciona a festa popular do carnaval à política externa, e também pela capa, uma imagem do vitral da Catedral Nacional de Washington retratando o barão do Rio Branco. Imediatamente somos levados a perceber que o livro tem como ponto de partida José Maria Paranhos da Silva Júnior, o barão do Rio Branco, responsável pela consolidação do território brasileiro, que figura naquele conjunto de vitrais, com Bolívar e San Martín, entre os heróis da América do Sul.

O autor, diplomata de carreira, mestre e doutor em História pela Universidade de Brasília, desenvolveu neste livro, O dia em que adiaram o Carnaval: política externa e a construção do Brasil, publicado pela Editora Unesp, um excelente estudo sobre as relações entre nacionalismo, identidade e política externa. Partindo de Rio Branco, Villafañe percorre o panorama histórico do país, do século XIX até os dias atuais, para investigar como foi construída a ‘consciência nacional’, a ‘ideia de raça brasileira’, a ‘consciência do atraso nacional’ e a ‘liderança natural’ do Brasil na América Latina.

O adiamento das festividades populares de 1912 em razão da morte do barão do Rio Branco, ocorrida na véspera do carnaval, demonstra o prestígio e o poder do diplomata não só diante das autoridades, mas também perante a população. Este seria, para Villafañe, um caso único na história, no qual a figura de um diplomata torna-se referência para a construção da nação ao obter importantes vitórias nas disputas de fronteiras.

Embora não sejam contemporâneos, Bolívar, San Martín e Rio Branco teriam sido, cada um a seu modo, responsáveis pela consolidação das nacionalidades na América do Sul. O que salta aos olhos é que, no caso do Brasil, uma figura da República, e não do Império, foi protagonista desse processo de construção da nação brasileira. Mas como explicar o lugar ocupado por Rio Branco na memória e no imaginário da nação brasileira, quase um século depois do processo de independência?

Villafañe afirma que a independência brasileira se fez sem a presença dos famosos ‘libertadores’ dos demais países americanos, e que o Império teria criado um sentimento de pátria comum ainda atrelado à legitimidade dinástica, nos moldes dos Estados europeus do Antigo Regime, o que explica a pequena adesão da sociedade ao sentimento de identidade nacional. Isso teria mudado com a República, momento em que se buscou desenvolver um sentimento nacional brasileiro vinculado à ‘comunidade imaginada’, conceito de Benedict Anderson, do qual o autor se vale muitas vezes ao longo do livro.

Ao argumentar que a política externa é um dos aspectos mais característicos da ação do Estado na construção do nacionalismo, Villafañe destaca que a questão do território conformou o ‘interesse nacional’ brasileiro, já que é um dos elementos essenciais daquilo que o autor denomina “santíssima trindade do nacionalismo”, composta por “Estado, Povo e Território”.

Por sua vez, a identidade de um Estado, auxiliada pela política externa, se constrói muitas vezes a partir de sua relação com os demais Estados, daí a importância do conceito de ‘alteridade’, que leva o pesquisador a investigar, não apenas quais foram os ‘outros’ externos, mas também os ‘outros’ internos. Segundo Villafañe, na tentativa de criar uma ‘comunidade imaginada’ brasileira, o “outro pode assumir várias formas: brasileirosversus portugueses, brasileiros versus africanos, América versus Europa, império versus república, civilizaçãoversus barbárie, americanismo continental versus nacionalismos particulares”.

Sendo assim, o objetivo central das primeiras gerações de intelectuais da República foi reinserir o Brasil na América e superar o ‘atraso’ gerado pela colonização e pela monarquia portuguesa. O autor identifica, nesse contexto, duas vertentes de debate sobre a identidade brasileira, as quais engendraram as ideias do ‘atraso nacional’: uma baseada nas relações entre o meio e a raça (que valorizava a mestiçagem) e outra assentada numa visão antilusitana e antiafricana (que valorizava o americanismo).

O historiador afirma que, com o advento da República, transformou-se o lugar do Brasil no continente, especialmente a partir da incorporação das premissas do pan-americanismo, caras à política externa brasileira, principalmente durante a gestão de Rio Branco como chanceler, entre 1902 e 1912.

Segundo o autor, a diplomacia de Rio Branco é paradigmática para compreender a relação entre nacionalismo e territorialidade, pois buscava definir as fronteiras, aumentar o prestígio internacional do Brasil e afirmar a liderança ‘natural’ de nosso país na América do Sul, deixando como herança um ‘evangelho’ que descrevia o Brasil como “um país pacífico, com fronteiras definidas, satisfeito territorialmente”. Um exemplo interessante, analisado pelo historiador, foi a presença do Brasil nos trabalhos da Liga das Nações, participação que tinha como meta aumentar o prestígio internacional do país, mas que contribuiu, ao mesmo tempo, para a sustentação política do governo e para fortalecer as rivalidades entre Brasil e Argentina na disputa pela preponderância política e militar no Cone Sul.

Villafañe destaca ainda o Estado Novo como forte instrumentalizador da identidade nacional, já que nesse período ocorreu o processo de consolidação dos dois símbolos culturais da identidade brasileira atual: o carnaval e o futebol. Através do Departamento de Imprensa e Propaganda – órgão responsável por auxiliar as “festas populares com intuito patriótico, educativo ou de propaganda turística” – Getúlio Vargas institucionalizou o carnaval, tornando-o oficialmente símbolo da nacionalidade brasileira, e profissionalizou o futebol, com o intuito de difundir um conjunto de valores supostamente pertencentes a um caráter nacional, “produto de uma alma brasileira”.

Também a partir da Era Vargas, o nacionalismo teria se vinculado à ideia de desenvolvimento econômico e social, o que, segundo o autor, teria “acrescentado um novo elemento ao evangelho do Barão”. O desenvolvimento patrocinado pelo Estado levaria à superação do atraso e projetaria o Brasil para o futuro, ao desenvolver uma ‘autonomia da dependência’, componente ausente da política externa, tanto do Império, quanto da República Velha.

É nesse momento que, segundo Villafañe, a retórica diplomática brasileira incorpora de fato o pertencimento à América Latina, ao se perceber membro do grupo de países menos desenvolvidos e buscar a superação do ‘atraso nacional’. Dessa fase, o historiador destaca o nacional-desenvolvimentismo, característico dos governos de Juscelino Kubitschek, Jânio Quadros e João Goulart; analisa a teoria da modernização, criada pela academia norte-americana no pós-Segunda Guerra Mundial (que contrapõe as sociedades ‘modernas’ às ‘tradicionais’) e explica por que os Estados Unidos se tornaram o ‘outro’, em contraste com a identidade latino-americana.

A partir da Política Externa Independente, do início da década de 1960, o Brasil abandonou a ‘aliança não escrita’ com os Estados Unidos, reforçou a identidade latino-americana e desenvolveu as afinidades com a África e com a Ásia, que viviam o processo da descolonização. O autor ressalta esse período, sem deixar de considerar o fato de a identidade continental americana ter sido utilizada pelos Estados Unidos como forma de controle, ao excluir Cuba do sistema interamericano em função de seu sistema político, ‘incompatível’ com os demais países da América.

Por fim, ao analisar a Ditadura Militar, o historiador realça a posição de alinhamento do Brasil com os Estados Unidos (uma volta aos velhos padrões da política externa) e enfatiza o discurso anticomunista e nacionalista dos militares (que percebem o Brasil como ‘potência regional’). Além disso, Villafañe destaca o retorno e o fortalecimento da identidade latino-americana entre o final do século XX e o princípio do século XXI, discutindo como as nações são inventadas e reatualizadas de acordo com os diferentes contextos históricos.

O autor termina o livro em tom levemente provocativo, questionando se houve ou não um rompimento com o ‘evangelho’ de Rio Branco. O grande panorama apresentado cuidadosamente por Villafañe nos permite comparar os variados períodos da nossa história, levando-nos a entender as complexas relações de poder dos diferentes projetos identitários e da ‘comunidade imaginada’ que é o Brasil. Mesmo para aqueles que discordem das premissas e das teses do autor, esta obra lúcida e instigante aponta novos caminhos de reflexão sobre a imbricada relação entre a política externa e a longa e incessante ‘construção’ do Brasil.

Resenha recebida em 8 de julho de 2011.
Aprovada em 10 de outubro de 2011.

Resenha publicada na página do indusal

GRUPO DE INVESTIGACIÓN SOBRE LAS INDEPENDENCIAS IBEROAMERICANAS DE LA UNIVERSIDAD DE SALAMANCA

http://campus.usal.es/~indusal/web/?q=node/6

              En medio de las celebraciones por el Bicentenario de los procesos de independencia, todos los latinoamericanos estamos participando, consciente o inconscientemente, de un debate sobre nuestras identidades. El Dr. Villafañe G. Santos, diplomático e historiador brasileño, ha sabido captarlo y le ha servido de musa para su tercer libro: O dia em que adiaram o Carnaval (El día en que aplazaron el Carnaval).

               Aborda la formación de la nacionalidad brasileña, a partir de la acción estatal, en particular, de la política exterior y toma como hilo conductor el papel que cumplió la figura de José Maria Paranhos Da Silva Júnior, en la construcción del Estado-nación; quien a su muerte habría pasado a formar parte del imaginario colectivo como uno de los “padres fundadores” del Brasil y su legado a oficiar, por años, de sustento y guía de la política de Itamaraty. Para sostener esta hipótesis, el autor, parte de dos premisas. En primer lugar que el Estado liberal construyó la nación, y la política exterior, como su expresión externa, tuvo a su cargo establecer los límites del territorio y contribuir a la creación de la identidad nacional respecto a su relación con los demás. En segundo lugar, desmitifica al nacionalismo, como fenómeno ideológico de carácter político, desde el momento en que lo considera utilizado conscientemente por los Estados, como fuente de legitimación del poder. Así Villafañe hace temblar nuestros propios cimientos, y nos invita a reflexionar sobre la acción de políticos, historiadores y artistas de todos los tiempos en la construcción de la identidad, en tanto invención colectiva, viva y en constante reelaboración, que nos lleva a cuestionar nuestro propio “yo”, y en consecuencia la idea que tenemos del “otro”.

              El estudio sigue una división clásica de la historia del Brasil, donde se observa el tránsito de un sentido localista propio de unas colonias portuguesas, desunidas e indefinidas territorialmente, a un sentimiento aglutinador que hizo y hace sentirse a todos brasileños. El Imperio, legitimado por el principio dinástico‐religioso, según el autor, generó un sentimiento de patria común como sinónimo de todo el territorio e identificada con la persona del Emperador, por encima de las patrias locales. En esta etapa, fue clave la acción de la diplomacia en la demarcación del espacio nacional y en la elaboración de una imagen de país civilizado, estable, unido, poseedor de una riqueza natural inigualable y, en consecuencia, poderoso. Sin embargo, la guerra del Paraguay puso de manifiesto las debilidades del régimen que devino, en una crisis de legitimidad que terminó por causar la caída de Pedro II, y dar lugar al comienzo de una nueva era basada en valores compatibles con los sostenidos por el mundo occidental del momento.

              Del libro se desprende que la construcción de la nación fue una obra de la República, y en el ámbito de la política exterior, el Barón de Rio Branco fue su principal operario. En efecto, el nuevo régimen político trajo aparejada la idea de ciudadano, en tanto, concepto homogéneo e igualitario, lo que mostró la urgencia de que todos se vieran como “brasileños”. El territorio, como base física necesaria para la construcción de la nacionalidad, fue revalorizado y asociado a la idea de grandeza e integridad. Las victorias diplomáticas del Barón en la demarcación de los límites con sus vecinos y su legado respecto a la forma en que el Brasil debía relacionarse con las otras naciones, estuvieron en la base de la creación del mito de su “paternidad”. Entonces, Paranhos, habría pasado a personificar la grandeza brasileña en el imaginario colectivo, convirtiéndose en un elemento aglutinador por encima de las diferencias sociales. Una construcción, en la que poco importa el límite entre el mito y la realidad histórica, porque tenía un fin propio e independiente: sustentar la cohesión nacional y legitimar al Estado.

              Rio Branco habría sido el “santo” de Itamaraty. Construido desde el poder, para servir de guía a la hora de diseñar la imagen del Brasil, y la propia política exterior, así como para inspirar las acciones concretas de la diplomacia brasileña. El Barón le habría legado a la cancillería cuatro postulados generales (pacifismo; multilateralidad, defensa de los principios y confianza en el Derecho internacional como arma de los países débiles) que habrían de identificar al Brasil por mucho tiempo y sobre las cuales se habría erigido una nueva autoimagen: un país americano, pacifista, respetuoso, principista, dueño orgulloso de un vasto y rico territorio, sin manchas de sangre, nacido en las mesas de negociación y bautizado con champagne. La segunda mitad del siglo XX habría demandado la incorporación de nuevos elementos (por ejemplo, concebirse como un país subdesarrollado), e incluso, en los hechos, quebrar con alguna esas directivas “sagradas”.

              Villafañe simplemente deja planteada la hipótesis, no entra ni en el proceso interno de la invención del mito y menos en el acogimiento por parte de los distintos sectores de la sociedad brasileña a lo largo del tiempo. Ello no le impide presentar el actual debate sobre la identidad del Brasil, en el cual se reelaborarían temas antiguos como la grandeza brasileña, y la superación del atraso, la identificación con América, Latinoamérica, o Sudamérica, con el primer mundo o del tercero, entre otros.

              Este ensayo aporta innumerables líneas de investigación tanto para el caso de Brasil como para otros países. La elección del binomio construcción de la nación desde la política externa, obliga al autor a circunscribirse temporalmente al estado liberal y en consecuencia, bajo pena de desviase, lo limita para profundizar en aspectos muy importantes en ese proceso como la creación de los elementos identitarios regionales internos, su existencia paralela a la nación, incluso la exploración de lo que significó y significa ser brasileño, o de cualquier otra nacionalidad, en una sociedad heterogénea. Asimismo, incita a aventurarse en novedosos estudios, como por ejemplo, el papel de las adoraciones marianas, de manifestaciones artísticas, del deporte o de las fiestas populares como símbolos religiosos y laicos que transforman esta invención, en el fuero íntimo de cada uno de nosotros, en pasión y verdad.

              O dia em que adiaram o Carnaval, ha traído a nuestra conciencia la importancia de la identidad como invención colectivamente construida, tanto para entender el pasado como para coadyuvar a elaborar el futuro, en ese sentido, el Dr. Villafañe G. Santos nos ha hecho a todos un gran favor.

Adriana Mirel Clavijo

Buenos Aires, 11 de diciembre del 2011

DEA en Historia Contemporánea por la            

Universidad San Pablo CEU, Madrid.   

Prof. Asistente de Historia de las Relaciones Internacionales, Facultad de Derecho, UdelaR, Uruguay.

Revista Brasileira de História

Print version ISSN 1806-9347

Rev. Bras. Hist. vol.31 no.62 São Paulo Dec. 2011 (English version)

Santos, Luís Cláudio Villafañe G.

O dia em que adiaram o Carnaval: política externa e a construção do BrasilTereza Maria Spyer Dulci (Doctoral Student, Department of History, FFLCH/USP; Fapesp Grantee.  terezaspyer@hotmail.com)

São Paulo: Ed. Unesp, 2010. 278p.

Luís Cláudio Villafañe G. Santos’ book impresses from the beginning with its title, which links the popular festival of Carnival to foreign policy, and also with its cover, an image of a stained glass window in the National Cathedral of Washington portraying Baron Rio Branco. Immediately we are led to perceive that the book’s starting point is José Maria Paranhos da Silva Júnior, Baron Rio Branco, responsible for the consolidation of Brazilian territory, who appears in that set of stained glass windows with Bolívar and San Martín, among the heroes of South America.

In this book  O dia em que adiaram o Carnaval: política externa e a construção do Brasil, published by Editora Unesp, the author, a career diplomat, with a Master’s and Doctorate from Universidade de Brasília, has written an excellent study of the relationship between nationalism, identity and foreign policy. Starting with Rio Branco, Villafañe runs through a historic panorama of the country, from the nineteenth century to the current day, to investigate how ‘national consciousness,’ the ‘idea of the Brazilian race,’ the ‘consciousness of national backwardness’ and the ‘natural leadership’ of Brazil in Latin America were constructed.

The postponement of popular festivities in 1912 due to the death of Baron Rio Branco, which had occurred on the eve of carnival, demonstrates the prestige and the power of the diplomat not only with authorities, but also with the general population. For Villafañe this was a unique case in history, in which the figure of a diplomat became a reference for the construction of a nation by obtaining important victories in frontier disputes.

Although they were not contemporaries, Bolívar, San Martín and Rio Branco were, each in their own way, responsible for the consolidation of nationalities in South American. What is immediately obvious is that in the case of Brazil, the figure of the Republic and not the Empire was the protagonist of this process of the construction of the Brazilian nation. But how can the place occupied by Rio Branco in the memory and imagination of the Brazilian nation, almost a century after the process of independence, be explained?

Villafañe states that Brazilian independence occurred without the presence of the famous ‘liberators’ of other American countries, and that the Empire had created a feeling of a common patria still connected to dynastic legitimacy, in the molds of European Ancien Regime, which explains the low level of adhesion to the feeling of national identity. This changed with the Republic, a moment in which it was sought to develop a national Brazilian feeling connected to the ‘imagined community,’ Benedict Anderson’s concept, which the author draws on numerous times in the book.

In arguing that foreign policy is one of the most characteristic aspects of state action in the construction of nationalism, Villafañe highlights that the question of territory shapes the Brazilian ‘national interest,’ since it is one of the essential elements which the author calls the “holy trinity of nationalism,” composed of “state, people and territory.”

In turn the identity of a state, helped by its foreign policy, is often constructed through its relationship with other states, thus the importance of the concept of ‘otherness,’ which leads researchers to investigate not only what are the external ‘others,’ but also the internal ‘others,’ According to Villafañe, in the attempt to create an ‘imagined Brazilian community,’ the “other can assume various forms: Brazilians versus Portuguese, Brazilians versus Africans, America versus Europe, empire versus republic, civilization versus barbarity, continental versus particular nationalisms.”

The central objective of the first generations of intellectuals in the Republic was to reinsert Brazil in America and overcome the ‘backwardness’ caused by colonization and the Portuguese monarchy. The author identifies in this context two strands of debate about Brazilian identity which engendered the ideas of ‘national backwardness:’ one based on relations between the environment and race (which valorized racial intermixing) and another based on an anti-Portuguese and anti-African vision (which valorized Americanism).The historian states that with the advent of the Republic, the place of Brazil on the continent was transformed, especially through the incorporation of the premises of Pan-Americanism, dear to Brazilian foreign policy, notably during the time of Rio Branco as foreign minister between 1902 and 1912.

According to the author the diplomacy of Rio Branco is paradigmatic tunderstand the relationship between nationalism and territoriality, since they seek to define frontiers, increase the international prestige of Brazil and affirm the ‘natural’ leadership of Brazil in South America, leaving as an inheritance a ‘bible’ which described Brazil as a “peaceful country with defined frontiers, territorially satisfied.” An interesting example, analyzed by the historian, was the presence of Brazil in the work of the League of Nations, whose aim was to increase the international prestige of the country, but which contributed at the same time to the political sustenance of the government and to strengthening the rivalries between Brazil and Argentina in the dispute for political and military preponderance in the Southern Cone.

Villafañe also highlights the Estado Novo as a strong instrumentalizer of national identity, since in this period there occurred a process of consolidation of the cultural symbols of current Brazilian identity: carnival and football. Through the Department of Press and Propaganda – the body responsible for helping “popular festivities with a patriotic, educational, or touristic propaganda purpose” – Getúlio Vargas institutionalized carnival, making it officially a symbol of Brazilian nationality, and professionalized football with the purpose of diffusing a set of values supposedly belonging to a national character, “product of a Brazilian soul.”

Also from the Vargas Era onwards, nationalism was linked to the idea of economic and social development, which according to the author “added a new element to the Baron’s bible.” The development sponsored by the state would lead to the overcoming of the backwardness and project Brazil to the future in developing an ‘autonomy of dependency,’ a component absent from foreign policy in both in the Empire and the Old Republic.

It was at this moment when, according to Villafañe, Brazilian diplomatic rhetoric incorporated the idea of belonging to Latin America, when it perceived itself as a member of a group of less developed countries and sought to overcome the ‘national backwardness’. In this phase the historian highlights national developmentalism, characteristic of the governments of Juscelino Kubitschek, Jânio Quadros and João Goulart; he analyzes the theory of modernization, created by US academia in post-Second World War era (which contrasts ‘modern’ and ‘traditional’ societies) and explains why the United States became the ‘other,’ in contrast with Latin American identity.

As a result of the Independent Foreign Policy, at the beginning of the 1960s, Brazil abandoned the ‘unwritten alliance’ with the United States, reinforced Latin-American identity and developed affinities with Africa and Asia, which were experiencing the decolonization process. The author highlights this period, though he does not forget to consider the fact that continental American identity was used by the United States as a form of control by excluding Cuba from the inter-American system in function of its political system, ‘incompatible’ with the other American countries.

Finally, in analyzing the Military Dictatorship, the historian emphasizes the position of the alignment of Brazil with the United States (a return to the former standards of foreign policy) and emphasizes the anti-communist and nationalist discourse of the military (who saw Brazil as a ‘regional power’). Moreover, Villafañe highlights the return and the strengthening of Latin American identity between the end of the twentieth century and the beginning of the twenty-first, discussing how nations are invented and updated according to different historical contexts.

The author ends the book in a slightly provocative tone, questioning whether Rio Branco’s bible has been ruptured. The great panorama carefully presented by Villafañe allows us to compare the different periods in our history, leading us to understand the complex relations of power of different identity projects and the ‘imagined community’ which is Brazil. Even for those who disagree with the author’s premises and theses of the author, this lucid and instigating work points to new paths of reflection on the inbuilt relations between foreign policy and the long and incessant ‘construction’ of Brazil.

Livro: El Imperio del Brasil y las Repúblicas del Pacífico 1822-1889 (2007)

El Imperio del Brasil y las Repúblicas del Pacífico

             A versão em espanhol do “Império e as Repúblicas do Pacífico” foi publicada, em Quito, pela Corporación Editora Nacional em conjunto com a Universidad Andina Simón Bolívar. A apresentação ficou a cargo do eminente historiador equatoriano Doutor Enrique Ayala Mora, reitor da Universidad Andina Simón Bolívar.
        Este libro explora de forma novedosa la problemática de las relaciones internacionales entre los países sudamericanos en el siglo XIX. De manera específica, la obra centra su atención en la evolución de las relaciones diplomáticas entre la cancillería del Imperio de Brasil y los países de la costa del Pacífico: Colombia, Ecuador, Perú, Bolivia y Chile, entre 1822 y 1889.

Constituye el primer trabajo histórico sistemático sobre las motivaciones que tuvo la diplomacia imperial para diseñar una política exterior específica hacia las repúblicas andinas. Dicha política fue congruente con la que había adoptado previamente hacia la región del Río de la Plata y estaba muy informada de los intereses que esgrimían las potencias europeas y los Estados Unidos. Se trata de un estudio pionero dentro de un área muy poco estudiada. Se basa en una cuidadosa y extensa revisión de los repositorios históricos de Itamaraty. Según el canciller brasileño, Celso Amorín, esta investigación es “una referencia indispensable para el estudio de las relaciones entre los países sudamericanos´:

La obra revela la posición que adoptó Brasil ante los conflictos bélicos más importantes de la región: las guerras de Independencia, la “cuádruple alianza” contra España, la “triple alianza” contra Paraguay y la Guerra del Pacífico. Analiza el complejo tejido de relaciones internacionales entre los países de la región. Finalmente, se abordan las preocupaciones de Brasil frente al predominio de Chile en el Pacífico. Esta obra constituye la primera traducción al español de su versión original publicada en portugués. 
  

UASB
   DATOS DEL LIBRO

Autor: Luís Cláudio Villafañe Gomes Santos
Año: 2007
Edición: Primera edición en español
Número de páginas: 168 pp.
Formato: 24 x 17 cm
ISBN: 978-9978-84-430-4

      Para o apresentador da edição em espanhol, Professor Doutor Enrique Ayala Mora, reitor da Universidad Andina Simón Bolívar:
         “El trabajo de Villafañe es rigurosos y refleja buen manejo de sus fuentes, adecuada formación metodológica y gran conocimiento de las realidades latinoamericanas del período que estudia. Su lectura nos ofrece no solo una excelente visión de la política exterior brasileña respecto de las repúblicas de la América Andina, sino que también plantea una serie de interrogantes sobre la realidad de nuestros países en las etapas iniciales de sua vida autónoma”.

SUMARIO DEL LIBRO

    Presentación

Agradecimientos

Prefacio de la edición brasileña

Introducción

El primer reinado y las repúblicas del Pacífico (1822-1831)

La revolución americana
Una posibilidad de conflicto
La Guerra de la Cisplatina y el intento de formación de una alianza antibrasileña
El Congreso de Panamá
El establecimiento de relaciones diplomáticas
El parlamento y la diplomacia de D. Pedro 1
Conclusiones

La gestación de un nuevo orden (1831-1849)

Un continente conflagrado
El parlamento y el americanismo
Los tratados de comercio y navegación
Las negociaciones con Perú y Bolivia
Las negociaciones con Chile
La no ratificación de los tratados
El Congreso de Lima
Conclusiones

La consolidación de la política exterior del Imperio y el anuncio de la hegemonía chilena en el Pacífico (1850-1861)

Consolidación de la política exterior del Imperio
Los límites y la doctrina del uti possidetis
La cuestión de la navegación fluvial
El anuncio de la hegemonía chilena en el Pacífico Sur
La Misión Especial en las repúblicas del Pacífico
La misión de Miguel Maria Lisboa en Venezuela, en Nueva Granada y en Ecuador
La problemática frontera con Bolivia
Conclusiones

América en guerra (1862-1870)

La Guerra de la Cuádruple Alianza contra España
La Guerra de la Triple Alianza y las repúblicas del Pacífico
Nuevamente, el congreso americano
La reacción de la diplomacia imperial
Aguiar de Andrada en Chile
Barbosa da Silva en Ecuador
La misión Lopes Netto y el tratado de 1867 entre Brasil y Bolivia
La misión Azambuja en Colombia
El restablecimiento de relaciones diplomáticas con Perú
Conclusiones

El calidoscopio de alianzas (1871-1878)

El nuevo cuadro político-estratégico
La frontera entre Chile y Argentina
La frontera entre Chile y Bolivia
La creciente tensión entre el Imperio y la República Argentina
La hipótesis de alianzas
El tratado secreto de 1873 entre Perú y Bolivia
La creciente tensión entre Chile y Argentina
Conclusiones

Brasil y la Guerra del Pacífico (1879-1883)

La Guerra del Pacífico y la neutralidad brasileña
La acción de las diplomacias chilena y peruana en Río de Janeiro
La victoria militar chilena
El tratado de límites entre Chile y Argentina
El fm de la guerra y sus consecuencias
Conclusiones

Los últimos años del Imperio brasileño (1884-1889)

La crisis del Imperio y la retracción de la política exterior brasileña
El mito de la alianza informal brasileño-chilena
Conclusiones

Palabras finales

Fuentes primarias y abreviaturas

Bibliografía

El autor

RESEÑA PUBLICADA EL REVISTA PROCESOS nº 27, I semestre 2008, pág. 152.

LUÍS CLÁUDIO VILLAFAÑE G. SANTOS, EL IMPERIO DEL BRASIL Y LAS REPÚBLICAS DEL PACÍFICO, 1822-1889, BIBLIOTECA DE HISTORIA NO. 23, QUITO, UNIVERSIDAD ANDINA SIMÓN BOLÍVAR, SEDEECUADOR/CORPORACIÓN EDITORA NACIONAL/FUNDAÇÃO ALEXANDRE DE GUSMÃO, 2007, 168 PP.

El texto del diplomático e historiador brasileño Luis Cláudio Villafañe se inscribe en el poco incursionado campo de la historia de las relaciones internacionales de las naciones latinoamericanas. Específicamente, Villafañe acomete el lado más oscuro de esta materia: las relaciones del imperio del Brasil con Colombia, Ecuador, Perú, Bolivia y Chile, es decir las repúblicas del Pacífico. Aborda este intento desde la mirada del imperio.

El autor describe, desde este locus de enunciación, cómo evolucionaron las relaciones del imperio con las repúblicas del Pacífico, para esta tarea se sirve de la periodización de la historia latinoamericana que propone el historiador argentino Tulio Halperin Donghi, de quien también toma herramientas teóricas. En un primer período (1822-1850) estas relaciones se caracteri- zaron por ser exiguas; el imperio se abocó más hacia Europa, primó la mutua desconfianza y la política exterior de Brasil y de las repúblicas del Pacífico se restringió por las disputas internas que los asolaban. En un segundo período (1850-1861) se gesta la consolidación del Estado brasileño y por tanto de su política exterior. Se definieron los puntos de interés del imperio con otras naciones: el tráfico de esclavos, la cuestión del Río de la Plata, la fijación de límites con los países que lo circundaban y el tema de la navegación fluvial. Brasil y Chile despuntan como naciones líderes en Sudamérica. El tercer período (1850-1883) se distinguió por los conflictos bélicos en la región. Primero la guerra declarada contra España por parte de Chile, Perú, Ecuador y Bolivia, coalición que se denominó la “Cuádruple alianza”, entre 1864 y 1866, en la que el papel cauteloso jugado por el imperio fue interpretado como favorable a España. Luego vino la guerra de la “Triple Alianza”, Brasil, Argentina y Uruguay contra Paraguay, (1865-1870), que generó protestas por parte de Chile, Bolivia, Colombia e inclusive la ruptura de relaciones diplomáticas del imperio con Perú. Y, finalmente, la “Guerra del Pacífico” (1879-1883) que enfrentó a Chile contra Perú y Bolivia frente a la cual Brasil proclamó su neutralidad. En el cuarto período, 1884-1889, marcado por los últimos años del imperio, la política exterior de Brasil se retrajo. Con las repúblicas del Pacífico solo se encontraba pendiente el arreglo de límites con Colombia. Las relaciones con Chile se mantuvieron fundamentadas en el mito de la “alianza informal”. Brasil y América Latina estaban adaptándose a un nuevo contexto internacional que, en el caso de las naciones sudamericanas, condujo a una reorientación de sus intereses hacia Estados Unidos.

En el libro que reseñamos los factores económicos tienen importancia primordial para explicar el desenvolvimiento tanto de la política interior como de la exterior de los países examinados. Todas las fuentes primarias, que son el armazón de este trabajo, son tomadas de repositorios documentales brasileños, especialmente del Archivo Histórico de Itamaraty y lo mismo podemos decir de la bibliografía secundaria, donde la mayoría de textos utilizados son de autores brasileños o brasileñistas. El estudio hubiera resultado más fecundo si se hubieran confrontado estos documentos con las fuentes primarias contenidas en los archivos históricos de las cancillerías de las repúblicas del Pacífico. También habría sido pertinente que se con- sulte más bibliografía escrita sobre el tema desde los países que compren- den las repúblicas del Pacífico, además de la chilena. En este sentido, por ejemplo, el vasto y contundente libro de Juan Miguel Bákula, Perú: entre la realidad y la utopía, 180 años de política exterior, y particularmente el amplio capítulo concerniente a las relaciones del Perú con Brasil, incluido en él, hubiera iluminado más el texto de Villafañe.

Luego de estas breves observaciones, diremos que el libro de Luís Cláudio Villafañe, construido con una narrativa clara y coherente y con una analítica hermenéutica, elucida y sistematiza por primera vez importantes aspectos de la vida de las naciones sudamericanas. Es, sin duda, un referente obligado para quien estudie la historia de las relaciones diplomáticas, internacionales y la política exterior de América Latina.

Maritza Aráuz

Universidad Andina Simón Bolívar, Sede Ecuador

Livro: O Brasil entre a América e a Europa – O Império e o interamericanismo, do Congresso do Panamá à Conferência de Washington (2004)

    Publicado em 2004  pela Editora da UNESP, este livro foi objeto de várias resenhas, inclusive por parte da tradicional “Hispanic American Historical Review”. A apresentação ficou a cargo do Embaixador Rubens Ricupero, ex-Ministro da Fazenda e ex-Secretário-Geral da UNCTAD.

Editora da UNESP / 2004 / 159 págs. / 14×21 cms / ISBN 85-7139-529-2

www.editoraunesp.com.br

        Obra que, sem dúvida, fornece elementos para a definição da identidade brasileira e exibe os precedentes da crítica agenda estratégica e comercial do Brasil contemporâneo com a América e a Europa. Aborda a política do Império brasileiro ante os sucessivos encontros interamericanos realizados no século XIX, desde o primeiro, no Panamá, em 1826, até o de Washington, em 1889/1890 (chamado de Primeira Conferência Internacional Americana, convocada pelos Estados Unidos, já sob a bandeira do pan-americanismo) – o único do qual o Brasil participou. A política externa do Império somente se consolida a partir de 1850, quando as posições nos principais temas da agenda brasileira passam a ser definidas por políticas coerentes. Isolado nas Américas como único defensor do princípio monárquico, o Estado brasileiro sente-se desvinculado dos países vizinhos na construção de um discurso legitimador para a constituição do que acreditava ser um bastião da civilização européia no continente.

 

RESENHAS

 

Hispanic American Historical Review (HAHR), Volume 88, número 4, de novembro de 2008. Páginas 735-737.

http://hahr.dukejournals.org

 

O Brasil entre a América e a Europa: O Império e o interamericanismo, do Congresso do

Panamá à Conferência de Washington. By luís cláudio villafañe g. santos. São

Paulo: Editora UNESP, 2003. Photographs. Notes. Bibliography. 159 pp.

 

Para o pesquisador atento, não passa despercebido o fato de haver um profundo distanciamento entre o Brasil e os demais países da América Latina. É visível o desconhecimento que os brasileiros demonstram sobre a história dos seus vizinhos e vice-versa. É sobre esse instigante tema que o diplomata e historiador, Luís Cláudio Villafañe dos Santos, se debruça contribuindo para a reflexão sobre as integrações regionais e continentais ora em debate. O autor discute a política do Império brasileiro frente aos encontros interamericanos realizados no século XIX: desde a célebre conferência do Panamá de 1826 – proposta por Simon Bolívar e com a intenção de integrar os países da América Latina de língua espanhola – até a conferência de Washington de 1889-1890, na qual os Estados Unidos lançaram o Pan-americanismo e a proposta de integração dos países do continente, sob sua liderança.

 

O autor constata o afastamento do Brasil dos seus vizinhos desde o início do século XIX. Para ele, tal cisão está fundada na opção pela continuidade monárquica no Brasil e a instalação da república nos outros países da América Latina, após as independências das metrópoles. Escolhas políticas que provocaram desconfianças mútuas e justificaram a fissura entre um e outros. Somavam-se aos diferentes regimes de governo implantados, constituições identitárias contrapostas: enquanto o Brasil se alinhava à Europa, posicionando-se como um Império civilizado e detentor da ordem, representava as repúblicas vizinhas como anárquicas e rebeldes.

 

Embora o Império brasileiro não tivesse uma linha clara para a sua política externa, esta se manifestou de forma variável através das questões relativas ao comércio, limites, navegação dos rios internacionais e tráfico de escravos. No entanto, Villafañe considera que se houve um aspecto permanente nas relações exteriores do Império, este se revelou na firmeza com que se empreendeu a distância com relação às repúblicas hispânicas. Apesar das diversas iniciativas de integração no século XIX, as idéias interamericanas que informaram a realização das conferências não englobavam um todo coerente e carregavam inclusive contradições em seus objetivos e alcances. Dessa forma, o autor propõe que esses encontros sejam compreendidos na sua dimensão política, uma vez que não havia bases econômicas para os projetos interamericanos.

 

As fontes que fundamentam as considerações de Villafañe encontram-se no Arquivo Histórico do Itamaraty, no Rio de Janeiro, e constituem o acervo das missões diplomáticas brasileiras. Nas conferências analisadas – Panamá (1826), Lima (1847-1848), Santiago (1856), Washington (1856), Lima (1864-1865) e Washington (1889-1890) – o autor verificou a ausência brasileira na maioria delas. Foram muitas as razões que levaram o Império a não enviar representantes às reuniões, tais como o temor da formação de uma frente antibrasileira ou mesmo evitar temas no qual se visse isolado, como o candente tema do trafico negreiro implementado pelo Brasil, apesar das pressões inglesas pelo seu fim.

 

A ausência brasileira nos encontros interamericanos explica-se também pelo fato de ser inviável para o Império participar de uma política interamericanista, pois isso colocaria em descrédito a identidade que propunha para si e o seu lugar de destaque frente às repúblicas hispano-americanas. Além do mais, os seus vínculos econômicos e culturais com a Europa não permitiam uma integração de fato com as repúblicas vizinhas. Os representantes do Brasil compareceram apenas na última conferência realizada em Washington, quando da proposição do Pan-americanismo pelo Secretário de Estado norte-americano James Blaine, mas com o regime monárquico já com os seus dias contados, pois a república foi instaurada no Brasil em 15 de novembro de 1889 – durante a realização da conferência de Washington. Nesta época, a diplomacia brasileira começava a se voltar para os Estados Unidos, mantendo o afastamento com relação aos outros países da América Latina.

 

Dessa forma, o trabalho de Luís Cláudio Villafañe dos Santos é uma importante contribuição tanto para o campo da História como o das Relações Internacionais. Mostra que as iniciativas de integração interamericanas não estão circunscritas às do século XX. Fornece assim subsídios para pensarmos não apenas as questões das relações externas do século XIX, mas os problemas colocados às integrações regionais (Mercosul) e continentais (ALCA), propostas no século passado. Permite-nos refletir sobre as transformações próprias da História e, por outro lado, sobre a força das continuidades, como o distanciamento entre o Brasil e os outros países da América Hispânica ainda tão presente e determinante entre nós.

 

mary a. junqueira, University of São Paulo

O ESTADO DE SÃO PAULO – Domingo, 19 de setembro de 2004

 

O JOGO DE INTERESSES ENTRE AS AMÉRICAS
Em livro, Luís Cláudio Villafañe G. Santos discute a diplomacia no Brasil

LEONARDO TREVISAN
Especial para o Estado

 

As relações dos Estados Unidos com seus vizinhos americanos nunca foram muito calmas. Isso, desde quando a América inteira tinha inimigo comum, nas guerras de independência contra as metrópoles européias.

Portanto, desde o começo, o que era bom para os Estados Unidos poderia não ser para os vizinhos. Especialmente para o maior deles, o Brasil. Mesmo quando a aproximação ocorria por um projeto de cooperação ou de apoio mútuo, o simples desenho de interamericanismo despertava barulhentos nacionalismos.

Em 1823, por exemplo, um ano após a Independência brasileira, a Doutrina Monroe – “a América para os americanos” – foi apresentada como um movimento antieuropeu, pró-libertação continental. Porém, não foi bem desse jeito que a diplomacia do Império entendeu essa doutrina.

O diplomata brasileiro, doutor pela Universidade de Brasília, Luís Cláudio Villafañe G. Santos em O Brasil entre a América e a Europa – O Império e o Interamericanismo (Editora Unesp, 160 págs., R$ 23) analisou, desde a origem, esse jogo de interesses dos países americanos. O embaixador Rubens Ricupero, autor da apresentação do livro, lembrou o histórico de “prudente resistência ou escasso entusiasmo” que a seqüência de propostas de integração provocaram na diplomacia brasileira. Principalmente, ao longo das sete décadas do Império.

Santos argumenta que o Brasil foi construído a partir da identificação com a Europa, “legitimado como Monarquia” e não como República, como os Estados Unidos e todos os vizinhos latino-americanos. A “idéia ampla de América” que pressupunha, segundo o autor, uma diferença entre o Novo Mundo e as antigas metrópoles, da “Europa dos soberanos”, não comportava bem o Brasil que, ao contrário dos vizinhos, optou pela continuidade da monarquia, com a Independência não significando grandes rupturas com a ordem colonial. Esse processo é único e vale lembrar o modo pioneiro como, por exemplo, a historiadora Maria Odila da Silva Dias o explicou, desenvolvendo o conceito de “interiorização da metrópole”. Isolado nas Américas como única monarquia, o Estado brasileiro tinha dificuldades para utilizar o mesmo discurso legitimador dos vizinhos, sustentado na idéia de ruptura entre Antigo Regime e Novo Mundo. Em um desafio à geografia, como notou o diplomata, o Império “inventava-se como um bastião da civilização, européia naturalmente, cercado de repúblicas anárquicas”.

Ao longo do Império, a participação do País nos congressos e conferências internacionais revela o “escasso entusiasmo” brasileiro por integração continental. É bem diferente no restante da América. É fato que na América hispânica, a reação nacionalista, antiamericana, tem outra matriz. Desde 1815, (na Carta da Jamaica) Bolívar falava de um “sentimento interamericano” que formaria no Novo Mundo “uma só Nação de repúblicas hispânicas”, sem Brasil e EUA. Este americanismo bolivariano foi o objetivo do Congresso do Panamá, de 1826, que o Brasil, depois de polidas desculpas diplomáticas, não compareceu. O interamericanismo “monroísta”, lançado três anos antes do Congresso de 1826 e pouco tempo depois das propostas de Bolívar, procurou neutralizar o seu congênere hispânico. A diplomacia imperial manteve distância de ambos. A Doutrina Monroe também não avançou além dos limites do sentimento antieuropeu. Em 1821, Edward Everett não poderia ser mais claro sobre o que pensava o irmão do Norte em relação aos vizinhos: “Nem com todos os tratados que possamos fazer, nem com todo o dinheiro que emprestarmos, poderemos transformar seus Bolívares em Washington”. Santos descreve como a diplomacia brasileira percebeu que o isolacionismo dos EUA embutia uma idéia de superioridade.

A política externa do Império refletia o fato de que a construção do Estado no Brasil tinha “linhagem européia” produto, como lembrou o autor, da evolução do “Estado territorial e dinástico que depois chega a Estado Nação”. Os demais países americanos construíram seus Estados baseados na idéia de nacionalidade e soberania popular. A Santa Aliança (que redesenhou o mundo depois de Napoleão) tratou de modo diferente cada independência americana. Metternick considerou só a Independência brasileira “legítima”, observando que o príncipe Pedro era culpado apenas de uma “antecipação de herança”.

Repensar relacionamentos com os vizinhos é sempre conveniente. Aliás, o embaixador Rubens Ricupero alertou que discutir a evolução do interamericanismo é importante até para “introduzir um pouco de sentido de perspectiva e relatividade históricas no debate sobre a Alca”, o acordo sobre livre comércio nas Américas, atual objeto de tanta pressão da diplomacia americana. É um bom conselho.

 

NOSSA HISTÓRIA Ano I, no 11, setembro 2004

 

O Brasil entre a América e a Europa: o Império e o interamericanismo

 

    Europa ou América? Civilização ou anarquia política? Afinal, com quem o Império tinha mais afinidade? Quem responde é a diplomacia brasileira do século XIX. Enquanto os países vizinhos organizavam os chamados encontros interamericanos para discutir os principais temas da política externa: fronteiras, comércio, navegação intercontinental e tráfico de escravos, o Império preferiu continuar a admirar as “civilizadas” monarquias européias e rejeitar aproximações com as repúblicas latinas. E permaneceu nessa posição irredutível até 1889, quando enviou seus primeiros representantes para a Conferência de Washington, mudança bem apresentada pelo diplomata Luís Cláudio Villafañe. Em livro de leitura fácil e fartamente recheado com documentos do Arquivo Histórico do Itamaraty, o autor revela meandros pouco conhecidos da diplomacia imperial.

 

DESVENDANDO A HISTÓRIA Ano I, no 2, novembro de 2004

 

    O Brasil entre a América e a Europa: o Império e o Interamericanismo

 

    Luís Cláudio Villafañe G. Santos é diplomata e, em seu livro anterior, já havia estudado as relações entre o Brasil Império, Chile, Bolívia, Peru, Equador e Colômbia. Em “O Brasil entre a América e a Europa – o Império e o interamericanismo (do Congresso do Panamá à Conferência de Washington)”, analisou a documentação dos congressos interamericanos entre 1826 e 1890, para compreender qual era a imagem que havia do Brasil no restante da América e quais eram as possibilidades de integração comercial e política num momento em que apenas o Brasil era uma monarquia no continente.

HISTORIANET – http://www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=643

O Brasil entre a América e a Europa

TÍTULO: O Brasil entre a América e a Europa.
AUTOR: Luís Cláudio Villafañe G. Santos
EDITORA: Unesp
PÁGINAS: 160

Obra que, sem dúvida, fornece elementos para a definição da identidade brasileira e exibe os precedentes da crítica agenda estratégica e comercial do Brasil contemporâneo com a América e a Europa. Aborda a política do Império brasileiro ante os sucessivos encontros interamericanos realizados no século XIX, desde o primeiro, no Panamá, em 1826, até o de Washington, em 1889/1890 (chamado de Primeira Conferência Internacional Americana, convocada pelos Estados Unidos, já sob a bandeira do pan-americanismo) – o único do qual o Brasil participou. A política externa do Império somente se consolida a partir de 1850, quando posições nos principais temas da agenda brasileira passam a ser definidas por políticas coerentes. Isolado nas Américas como único defensor do princípio monárquico, o Estado brasileiro sente-se desvinculado dos países vizinhos na construção de um discurso legitimador para a constituição do que acreditava ser um bastião da civilização européia no continente.

Os países americanos que surgiram a partir dos impérios coloniais europeus buscaram legitimar a sua situação política com base na idéia de ruptura com o universo ideológico do Antigo Regime. Isso significava adotar o republicanismo como forma de utilização da idéia de nação como fonte de legitimidade para o Estado. O Brasil, contudo, ao optar pela Monarquia, colocou-se na contramão desse movimento. Se, para os vizinhos americanos, o “outro” era a Europa e o Antigo Regime, para o Império, o “outro” era justamente o conjunto das repúblicas americanas. Assim, o Império construiu a sua auto-imagem a partir da superioridade da civilização que seu regime político representaria por estar próximo às monarquias européias. Curiosamente, mesmo escravista, atrasado e distante, o Império brasileiro via-se como distinto e melhor do que seus vizinhos, entendendo-os como anárquicos e instáveis. Levando em conta essas questões, este livro estuda temas como nacionalismo e interamericanismo, o Império e os congressos interamericanos e o Congresso de Washington. Aborda, assim, a política do Império brasileiro ante os sucessivos encontros interamericanos realizados no século XIX, desde o primeiro, no Panamá, em 1826, até o de Washington, em 1889/1890. Este último, chamado de Primeira Conferência Internacional Americana, convocada pelos Estados Unidos, já sob a bandeira do pan-americanismo, foi o único do qual o Brasil participou. Evidentemente, a análise da presença brasileira nesses eventos e da auto-imagem do Império em meio aos demais países das Américas, longe de se restringir a mero registro historiográfico, fornece elementos para a definição de nossa identidade e exibe os precedentes da crítica agenda estratégica e comercial do Brasil contemporâneo com a América e a Europa.

A partir do estudo da documentação da chancelaria brasileira e das fontes secundárias relevantes, este livro verifica a desconfiança e rejeição do Brasil Império contra a política do pan-americanismo, entendido como uma potencial frente comum oposta aos interesses brasileiros. O autor constata que a política externa do Império somente se consolida a partir de 1850, quando posições nos principais temas da agenda brasileira passam a ser definidas por políticas coerentes. Isolado nas Américas como único defensor do princípio monárquico, o Estado brasileiro sente-se desvinculado dos países vizinhos na construção de um discurso legitimador para a constituição do que acreditava ser um bastião da civilização européia no continente. 

e-l@tina

http://www.catedras.fsoc.uba.ar/udishal/elatina/08jul-set2004.pdf

 

Luís Cláudio Villafañe G. Santos, O Brasil entre a América e a Europa. O Império e o interamericanismo (do Congresso do Panamá à Conferéncia de Washington), Editora UNESP, Sâo Paulo, 2004 (150 páginas). ISBN 85-7139-529-2

 

Al contrario de los demás países latinoamericanos, Brasil no siguió el camino de la república después de su independencia. La única monarquia de América (más allá de las breves experiencias en México y Haití) volvió sus ojos hacia Europa, acreditándose como un legítimo representante de la cultura europea en el continente. Por otro lado, la mayoría de los países europeos, después de la reacción conservadora contra la Revolución Francesa, reconoció a Brasil sólo como nación independiente. El resultado fue un distanciamiento de la poilítica externa imperial de todas las tentativas interamericanistas. Cuestión todavia marginal de la historiografía brasileña (que se concentra en las relaciones con Europa y los Estados Unidos, amén de las cuestiones del Plata), las iniciativas para la integración latinoamericana en el siglo XIX son el foco de atención de Luís Cláudio Villafañe G. Santos. Analizando la documentación sobre los congresos interamericanos (desde el Congreso de Panamá, en 1826, hasta la Conferencia de Washington, en 1889-1890), el autor ofrece tanbién elementos que nos ayudan a entender la formación de la imagen de Brasil en el hemisferio y los precedentes de la agenda comercial y política del Brasil actual con a América y Europa.

A partir del estudio de la documentación de la cancillería brasileña y de fuentes secundarias relevantes, este libro verifica la desconfianza y el rechazo del Brasil imperial contra la política del panamericanismo, entendido como un potencial frente común opuesto a los intereses brasileños. El autor constata que la política exterior del Imperio sólo se consolida a partir de 1850, cuando las posiciones en los principales temas de la agenda brasileña pasan a ser definidas por políticos coherentes. Aislado dentro de América por ser el único defensor del principio monárquico, el Estado brasileño se sintió desvinculado de los países vecinos en la construcción de un discurso legitimador para la constitución de lo que acreditaba ser un bastión de la civilización europea en el continente.

Lanzado en un momento de redefinición estratégica de esta agenda, O Brasil entre a América e a Europa. O Império e o interamericanismo ofrece la base historiográfica para pensar las relaciones entre los países del continente y el papel que Brasil pretende tener en esa integración. En este sentido, particularmente interesante para los debates actuales es el capítulo sobre la Conferencia de Washington (el 3). Como resalta Rubens Ricupero en la “Presentación”, allí se revelaron “innúmeras analogías entre el proyecto de la ALCA de nuestros días y la tentativa de Cleveland y de su Secretario de Estado, James Blaine, de -ya en aquel remoto final del siglo XIX- tentar crear una unión aduanera desde Alaska hasta la Patagonia”.

 

SUMÁRIO DO LIVRO
Agradecimentos 

Abreviaturas

Apresentação

Rubens Ricupero

Introdução

1 Nacionalismo e interamericanismo

A criação do Estado moderno

Legitimidade dinástica e legitimidade nacional

Legitimidade dinástica e nacionalismo nas Américas

O interamericanismo e os nacionalismos americanos

A unidade territorial brasileira

As várias Américas

Americanos ou estadunidenses?

2 O Império e os congressos interamericanos

O americanismo brasileiro

Os congressos interamericanos do século XIX

O Congessso do Panamá

O Primeiro Congresso de Lima

Os Congressos de Santiago e de Washington

O Segundo Congresso de Lima

O Brasil e os congressos internacionais até 1880

3 O Brasil e a Conferência de Washington

Ambigüidade e resistência: o Império decide por sua participação

As instruções da diplomacia imperial

O fim do Império e a reformulação das posições brasileiras

Conclusão

Dos congressos do século XIX à Alca

Fontes e bibliografia
 

Livro: O Império e as Repúblicas do Pacífico – as relações do Brasil com Chile, Bolívia, Peru, Equador e Colômbia – 1822-1889 (2002)

Publicado em 2002, pela editora da Universidade Federal do Paraná (Curitiba). Em 2007, foi publicada a versão em espanhol do livro, sob o título “El Imperio del Brasil y las Repúblicas del Pacífico 1822-1889”.

177 páginas / 15×21 cm / Série Pesquisa no 78 – ISBN 85-7335-1004

          Segundo o ex-chanceler Embaixador Celso Amorim:

            “Esta obra, escrita com base em uma cuidadosa pesquisa e extensa documentação, resgata um tema inédito e contribui para ampliar o estudo das relações internacionais do Brasil no século XIX. De leitura agradável, sem prejuízo da matéria complexa e de um tratamento detalhado e erudito, O Império e as Repúblicas do Pacífico é uma referência indispensável para o estudo das relações entre os países sul-americanos, tema de indiscutível atualidade e relevância. Seu autor se inclui, assim, na longa tradição de diplomatas historiadores que o Itamaraty produziu”.

O livro é produto de extensa pesquisa documental, em especial no Arquivo Histórico do Itamaraty, e resgata as relações do Brasil com os países da costa ocidental da América do Sul durante o  Império. Trata-se de  um tema quase desconhecido na historiografia, mas de fundamental relevância para o estudo das relações internacionais do Brasil e da América do Sul no século XIX. Além de lançar nova luz sobre temas como a definição das fronteiras e a navegação dos rios internacionais, o livro discute, entre outros, temas como o papel desempenhado pelo Brasil na evolução dos acontecimentos que levariam à Guerra do Pacífico, o  comércio intra-sul-americano e as propostas de congressos americanos.

Apresentação de Paulo Roberto de Almeida

SUMÁRIO DO LIVRO

INTRODUÇÃO

1 – O PRIMEIRO REINADO E AS REPÚBLICAS DO PACÍFICO (1822-1831)
A revolução americana
Uma possibilidade de conflito
A Guerra da Cisplatina e a tentativa de formação de uma aliança antibrasileira
O Congresso do Panamá
O estabelecimento de relações diplomáticas
O Parlamento e a diplomacia de D. Pedro I

2 – A GESTAÇÃO DE UMA NOVA ORDEM (1831-1849)
Um continente conflagrado
O parlamento e o americanismo
Os tratados de comércio e navegação
As negociações com o Peru e a Bolívia
As negociações com o Chile
A não-ratificação dos tratados
O Congresso de Lima

3 – A CONSOLIDAÇÃO DA POLÍTICA EXTERNA DO IMPÉRIO E O PRENÚNCIO DA HEGEMONIA CHILENA NO PACÍFICO (1850-1861)

A consolidação da política externa do Império
Os limites e a doutrina do uti possidetis
A questão da navegação fluvial
O prenúncio da hegemonia chilena no Pacífico Sul
A Missão Especial nas Repúblicas do Pacífico
A missão de Miguel Maria Lisboa na Venezuela, em Nova Granada e no Equador
A problemática fronteira com a Bolívia

4 – A AMÉRICA EM GUERRA (1862-1870)
A Guerra da Quádrupla Aliança contra a Espanha
A Guerra da Tríplice Aliança e as Repúblicas do Pacífico
Novamente, o Congresso Americano
A reação da diplomacia imperial
Aguiar de Andrada no Chile
Barbosa da Silva no Equador
A missão Lopes Netto e o Tratado de 1867 entre o Brasil e a Bolívia
A missão Azambuja na Colômbia
O restabelecimento de relações diplomáticas com o Peru

5 – O CALEIDOSCÓPIO DE ALIANÇAS (1871-1878)
O novo quadro político-estratégico
A fronteira entre o Chile e a Argentina
A fronteira entre o Chile e a Bolívia
A crescente tensão entre o Império e a República Argentina
As hipóteses de aliança
O tratado secreto de 1873 entre o Peru e a Bolívia
A crescente tensão entre Chile e a Argentina

6 – O BRASIL E A GUERRA DO PACÍFICO (1879-1883)
A Guerra do Pacífico e a neutralidade brasileira
A ação das diplomacias chilena e peruana no Rio de Janeiro
A vitória militar chilena
O Tratado de Limites entre o Chile e a Argentina
O fim da guerra e suas conseqüências

7 – OS ÚLTIMOS ANOS DO IMPÉRIO BRASILEIRO (1884-1889)

A crise do Império e a retração da política externa
O mito da aliança informal brasileiro-chilena

PALAVRAS FINAIS

FONTES PRIMÁRIAS E ABREVIATURAS

REFERÊNCIAS